Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O que separa a crítica da intimidação

As queixas contra a imprensa manifestadas pelo premiê Tony Blair e pelo presidente Lula na semana passada foram muito comentadas. Elas têm pontos em comum no seu teor, mas diferenciam-se numa questão básica: o primeiro-ministro inglês encerrou o seu mandato, é praticamente um ex-premiê. Ainda ocupa a casa 10 da rua Downing, em Londres, mas não manda, não tem poder, pode criticar à vontade sem que isso represente uma ameaça.

 

O presidente Lula, ao contrário, está no auge do poder, Assumiu o segundo mandato há seis meses, portanto manda e desmanda, faz e desfaz.

 

O ataque de Tony Blair à imprensa do seu país pode ser entendido como reclamação de um simples cidadão, no máximo membro do Parlamento. Já as críticas do presidente Lula, chefe do governo e chefe de Estado, por isso mesmo podem ser vistas como intimidação.

 

Um governo não pode apresentar-se como vítima da imprensa, não faz sentido, é brincadeira. A imprensa não prende, o governo prende; a imprensa não pode legislar, o governo pode. A imprensa não pode fechar um governo, no máximo pode combatê-lo, mas o governo pode suspender ou fechar um ou todos os veículos de informação com apenas uma assinatura.

 

Tony Blair nos interessa agora como um veemente observador da mídia. O presidente Lula mesmo fazendo piada sobre a mídia, este pode preocupar.