O presidente Lula agiu rápido e na brevíssima entrevista [N.da R.: na verdade, um aperitivo da entrevista completa, publicada em 17/9] que concedeu na quinta-feira (16/9) ao portal Último Segundo foi lacônico, preciso, incisivo: ‘Quando a gente está na vida pública não tem o direito de errar, e quando erra tem que pagar’.
O mais importante é que nesta crise Lula não investiu contra a imprensa, não a confrontou diretamente, preferiu um recado oblíquo sob a forma de conselho.
Esta mesma cautela, há algumas semanas, quando se avolumaram as denúncias na imprensa sobre a quebra de sigilo fiscal de figuras da oposição, teria evitado a perigosa exacerbação que dominou o cenário político no início da reta final da campanha e azedou novamente as relações governo-mídia. Mas o recado do presidente Lula à imprensa faz sentido: ‘Em casos de denúncias como esta é preciso fazer a distinção entre o que é fato e o que é ilação das manchetes dos jornais’.
Noticiário distorcido
As primeiras denúncias da revista Veja e da Folha de S.Paulo envolvendo os filhos e a agora ex-ministra Erenice Guerra eram consistentes, fortes, mas na sua formulação estava visível uma intenção de atingir de qualquer maneira a antecessora, a candidata Dilma Rousseff. É o que Lula chamou de ‘ilação’.
Se a imprensa desde o início da campanha tivesse sabido ater-se às evidências teria evitado os exaltados ataques do presidente. Em compensação, se o presidente tivesse reprimido seu ostensivo engajamento não haveria pretextos para distorções do noticiário.
O eleitor talvez não distinga as diferenças entre fato e ilação. Mas sabe perceber com muita clareza quando os governantes ou seus assessores cometem erros e quando merecem punição.