Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Rio é uma festa

O jornal O Globo publicou recentemente (29/3) outro artigo tentando demonstrar o entusiasmo dos cariocas com a nova fase que o Rio está vivenciando. O título já diz tudo: “Superação carioca”. Com 41 anos, o autor se declara de uma geração que sofreu muito com a sensação de quem viveu um inexorável período de decadência, em contraste com as histórias dos mais velhos, que falavam de um paraíso perdido. Ele relembra da década de 90, da saudosa coluna do Zózimo, que publicava notas intituladas “Bye bye Rio” e que transformaram suas manhãs, dia após dia, em uma verdadeira tortura porque o foco era anunciar a saída de mais uma empresa, a transferência de mais algum banco ou o fechamento de mais um símbolo do passado de glórias do estado ou do município do Rio de Janeiro.

Não se toca no assunto que o Rio de hoje é considerado uma “cidade partida”, face ao abismo socioeconômico resultante de décadas de incúria administrativa, e que uma das facetas resultantes é o fato de não haver mais uma disputa pela atenção do leitor entre duas empresas de cunho jornalístico tão necessário ao exercício de uma imprensa isenta, como havia naquela época.

Entrementes, há o apelo de que agora tudo irá mudar porque vivemos um momento extremamente positivo, beneficiado por uma conjunção de fatores, como o desenvolvimento da exploração do pré-sal, os grandes eventos esportivos, o bom desempenho e a articulação do governo estadual e municipal, aliado a um grande fluxo de investimentos em diversos setores. Vamos ao que interessa, o pré-sal levará ainda alguns anos para produzir ganhos, contudo, verdade seja dita, já está criando graves problemas, porque com o interesse de todas as unidades da federação no botim, o Rio deverá enfrentar uma nova distribuição dos royalties, podendo simplesmente quebrar, como o próprio governo estadual faz questão de ressaltar.

A relação entre os três poderes

Os grandes eventos esportivos caminham para uma especulação imobiliária sem precedentes e com resultados piores do que o Pan de 2007, quando só sobraram escândalos de superfaturamentos e elefantes brancos. Os tão anunciados fluxos de investimentos em diversos setores só se cumprirão se houver uma mudança de paradigma no Rio, porque nenhum empresário é bobo de aplicar o seu suado dinheirinho em um lugar que ainda está em clima disfarçado de guerra civil, como outra reportagem, esta do jornal O Dia, denunciou, ilustrando com fotos de traficantes armados pelos mais diversos subúrbios da cidade, além da recente proibição do uso de celulares em bancos para evitar os já tradicionais golpes conhecidos como “saidinhas”.

Sem qualidade de vida, os tão esperados investimentos privados não virão, até porque há uma forte concorrência com cidades menores que oferecem desde terreno, logística e mão de obra barata, a fortes incentivos fiscais, sem falar dos serviços eficientes, trânsito sem complicações e tranquilidade.

Quem não se lembra do fiasco do plano diretor da Cidade Nova, um polo de telecomunicações que nunca saiu do papel, embora tenham ocorrido desapropriações para as obras de infraestrutura e os terrenos ociosos são hoje um monumento à incompetência pública, fora que este foi mais um plano imposto, sem o apoio da sociedade, como esse que tentam nos impingir? Quanto à propalada relação entre os três poderes, não adiantará nada sem que haja um projeto impactante que revitalize uma combalida economia e convença a população a se engajar.

39,25% de veículos a mais em circulação

Realmente existe uma oportunidade única de se reinventar a cidade, como outras que tinham problemas piores ou iguais aos do Rio. Claro que nesses lugares havia um projeto crível de curto, médio e longo prazos, e que foi apresentado à coletividade em detalhes, ancorado numa atividade socioeconômica representativa, com um plano diretor direcionando ao crescimento socioeconômico, cultural e ambiental, o que propiciou a adesão de toda a sociedade, porque foi demonstrado um aumento da renda per capita e da qualidade de vida de forma contundente. Aqui, descaradamente não há um projeto, só a manipulação da opinião pública, porque se o prefeito Eduardo Paes não for reeleito, a revitalização da área portuária pode travar, as Cepacs podem “micar”, levando junto para o buraco os planos da Barra para os 2 milhões de m² privados.

No início tentaram trazer o urbanista responsável pela transformação de Barcelona, Jordi Borja, que se entusiasmou com o que poderia ser feito aqui, mas, ao constatar que nada do que deveria ser feito estava acontecendo, saiu de cena atirando. Promoveram um “genérico nacional”, o sr. Sergio Magalhães, que, entre outros ilustres articulistas, escreveu diversas vezes no Globo sobre a imprescindível necessidade de revitalizar as áreas suburbanas.

Só que com a total impossibilidade de isso acontecer, porque as alterações são para promover a especulação imobiliária na Barra, nos terrenos da Carvalho Hosken sob o mote de 30 anos em cinco, e no indescritível projeto Porto Maravilha (que vai demolir o elevado da Perimetral para refazer subterrâneo por motivos “estéticos” ao custo de bilhões de reais, como se a infraestrutura do trânsito no Rio não estivesse sentindo os efeitos da entrada de 39,25% de veículos a mais em circulação em nove anos, desde fevereiro de 2002, sem nenhuma obra executada de melhoria para circulação do tráfego), ele já mudou de ideia, abandonou os subúrbios à própria sorte e agora quer “iconizar” a cidade sem levar em consideração que, sem uma economia saudável apoiada em qualidade de vida, ninguém em sã consciência investirá numa “cidade partida”, onde só a zona sul funciona (e mal).

Cidade de Deus tem população de 60 mil

É incrível uma cidade que tem seriíssimos problemas socioeconômicos planejar mudanças críveis sem revitalizar a economia de forma clara. O urbanista está entusiasmado com a possibilidade de administrar melhorias em favelas com uma verba inicial de R$ 1,7 bilhões. Será que ele sabe que o Rio é o campeão nacional em tuberculose exatamente porque nessas favelas a maioria dos barracos não tem janela e sim um mísero basculante? O que não propicia uma renovação adequada do ar no ambiente, entre outras mazelas, e que dificilmente isto pode ser revertido com um programa do tipo “favela bairro”? O qual até agora não disse ao que veio e sempre surge nos noticiários “supostamente” envolvido em obras de quinta categoria, que na primeira chuva se desmancham ou em desvios de verbas? O grande problema não é a favela e sim as consequências da falta de uma política pública habitacional e de geração de empregos de qualidade que acaba de completar meio século de existência. Será que uma economia que pretende ser a quinta do mundo em 2020 permitirá que seus membros “habitem” em condições tão insalubres? Em Barcelona, por exemplo, elas foram extintas para os jogos Olímpicos de 1992 devido à revitalização da economia.

Como mudar este cenário que se espalha por toda a cidade sem revitalizar a economia? O governador Sérgio Cabral está dando entrevistas onde anuncia que até o final do seu mandato em 2014 cumprirá o seu compromisso de pacificar todas as comunidades que ainda estejam dominadas por criminosos. Essa é a mensagem que a autoridade tem que passar, o problema é que a afirmação não é crível, pois, em mais de dois anos de política de segurança, de 1.020 comunidades só 55 foram pacificadas, ou seja, nem 5,4% foi efetivamente cumprido, sendo que, na verdade, o que está se vendo é uma interiorização da criminalidade com reflexos por todo o estado.

As UPPs, que são o carro-chefe das tão sonhadas mudanças, acabam de completar dois anos na Cidade de Deus e mostram que, na prática, melhorou a segurança, mas que uma triste realidade persiste na área social. Segundo pesquisa do Rio Como Vamos (RCV), o índice de alunos em séries atrasadas no ensino médio (92%) é o maior do município junto com o dos que abandonaram a escola (29%). Pior, descobriram que a população, inicialmente estimada em 35 mil habitantes, era na verdade de 60 mil (IETI), onde 42% não trabalha, e dos que trabalham só 49% tem carteira assinada, e que do total 23,5% eram identificados como pobres e 5% como indigentes. 21% das famílias são formadas só por mães e seus filhos e 40% das crianças de até seis anos não frequentam a escola, impossibilitando suas mães de trabalharem. Ou seja, após dois anos de ocupação, os resultados sociais são péssimos em todos os sentidos, se aproximando do Minustah da ONU no Haiti, onde as pessoas para enganar a fome comem bolachas de barro.

“Rio virtuoso”

Segundo o autor do artigo, o próprio tom das notícias mudou. Uma coluna do caderno de economia do Globo trata diariamente de novos investimentos, abertura de negócios e bons resultados registrados no estado. Se ele puxasse pela memória, constataria que após 11 anos consecutivos apresentando o pior desempenho no PIB de todos os estados da federação (IBGE), com um crescimento negativo, se dessas contas fosse retirado o fator petróleo, o que explicaria a total desindustrialização municipal, o absurdo número de galpões abandonados com placas de alugo ou vendo, fora o crescimento das invasões, que elevaram o número de favelas a mais de 1.020 unidades, sem contar os absurdos índices de informalidade (5% da economia era formal em 2009 – RCV), uma hora se chegaria ao fundo poço. Com R$ 50 bilhões em previsões de investimentos públicos e privados, é claro que algumas notícias boas apareceriam, mas, do jeito que vai, jamais chegará a enfrentar o número de desempregados que aparecem a cada dia, como, por exemplo, os 300 mil que foram “descobertos” após a invasão do Complexo do Alemão, área que por sinal perdeu quase 1500 indústrias da década de 90 para cá. Por outro lado, com essa aludida industrialização do interior do Rio, fica cada vez mais clara a necessidade de se planejar uma reestruturação econômica para o município.

Ele cita casos como o da Nestlé, que anunciou que o Rio era seu maior mercado no ramo de iogurtes, mas se esqueceu de citar que, com a desindustrialização do Rio, aqui ela não sofre concorrência. Fala também da retomada do mercado de empresas de gestão de recursos e corretoras que estão apenas suprindo nichos de mercado, porque o Rio ainda concentra a maior folha de pagamentos aos aposentados do Brasil, além das sedes do BNDES, Petrobrás, Furnas, Eletrobrás e Vale. Tirando isso sobra o quê?

Começa a ratear quando fala do carnaval, quando a cidade promoveu a mais descarada manipulação de dados que já testemunhamos. Foi publicado no Globo (1.03), no caderno comemorativo dos 416 anos do Rio, intitulado “Rio virtuoso”, que hipoteticamente mostra uma recuperação da economia que só o ilustre diário enxerga: “Setecentos e sessenta mil turistas devem ocupar quase todas as vagas da rede hoteleira desta cidade durante o carnaval. Quando forem embora deverão ter deixado US$ 560 milhões.”

Situação é nos serviços como um todo

A estatística é uma ciência exata porque sua base de cálculo pode ser comprovada imediatamente. Aqui no Rio temos algo em torno de 25 mil quartos de hotel. Como a ABIH-RJ falou em 95% de taxa de ocupação, sobram 23.750 quartos. Multiplicados por duas pessoas (um casal) obteremos 47.500 pessoas. Somos otimistas e falamos em 60 mil pessoas. Como é carnaval, “a maior festa do mundo”, coloquemos US$ 200,00 por pessoa, praticamente o dobro do gasto diário anual do Rio (Embratur), e obteremos com um pacote de cinco diárias US$ 60 milhões. Peguemos 20 mil pessoas dos transatlânticos e apliquemos estes números, estamos exagerando de propósito, porque esses navios não ficaram por aqui cinco dias consecutivos, e obteremos mais US$ 20 milhões. Essa soma dará US$ 80 milhões, número bem diferente daquele divulgado pela prefeitura. Como explicar essa diferença de US$ 460 milhões? Em todo o mundo, para evitar certas controvérsias como esta, só se considera “turista” o visitante que paga diária em hotel, porque desta forma existe um controle que pode ser comprovado e, principalmente, um imposto que será recolhido.

Por que uma atividade tão importante para qualquer economia, como o turismo, pode ser tão achincalhada quanto no Brasil? A recente abertura dos céus a voos dos Estados Unidos e de mais doze países da União Europeia deverá aumentar a concorrência entre as empresas, fazendo com que os preços caiam e aumente a quantidade de horários e de voos. Por que os preços aqui cobrados são absurdamente mais caros? Porque somos o único lugar no mundo em que, há mais de dez anos, ainda se paga comissão sobre a venda de passagens aéreas, para agentes e operadores por força de liminares da justiça.

Nos outros lugares os agentes e operadores não quebraram, ao contrário, se sofisticaram, passando a serem profissionais altamente especializados e a cobrarem por isso, como qualquer profissional liberal, médicos ou advogados. Essa modernização comportamental é o caminho que deve ser percorrido pela indústria nacional de lazer, porque a situação aqui é digna de deboche. A Embratur teve que suspender a classificação internacional de estrelas por causa de reclamações de pessoas que se sentiram fraudadas. A situação não é ruim só nos hotéis, mas nos serviços como um todo; restaurantes, comércio e até hospitais estão apavorando os turistas internacionais e colocando o Brasil nas últimas colocações (OMT, ONU). E nós vamos realizar uma Copa e uma Olimpíada com breve intervalo.

A badalada indústria naval

Qualquer destino turístico de qualidade jamais apresentaria números oficiais tão questionáveis e, ainda por cima, promoveria desfiles com mais de 150 mil foliões alcoolizados em um só bloco, que vandalizam a cidade e que podem em segundos provocar uma tragédia de proporções inimagináveis. Qual é a expectativa séria de faturamento municipal para o evento que é considerado como a maior festa do mundo? Qual foi a última vez em que se ouviu falar que uma empresa se mudou para o município do Rio em vez de que se mudou do Rio?

Apela-se também para uma hipotética disputa por espaços para centros de pesquisa na Ilha do Fundão, se esquecendo de que lá sempre foi uma ilha de excelência graças a convênios com a Petrobras, que tendem a aumentar, explosivamente, cada vez mais em função do pré-$al, que sozinho promete investir R$ 107 bilhões em uma tecnologia em águas profundas que o Brasil domina por causa desses mesmos convênios. O detalhe é que as empresas que irão se instalar lá (Schulemberger, Baker Hugh, GE e outras) estão voltadas para a pesquisas no pré-sal e novas tecnologias que terão que ser desenvolvidas para viabilizar a extração desse tesouro energético locado em uma situação extremamente agressiva e perigosa. Não fala que na luta para atrair empresas para trabalhar com o melhor celeiro de cérebros e laboratórios do Brasil se está dando desde terrenos e incentivos fiscais até generosos empréstimos do BNDES. Para atrair, por exemplo, a GE foi necessário uma bem engendrada ação que uniu os três poderes e que envolveu um terreno do Exército, repassado a esta empresa.

Há um trabalho sendo realizado, mas que pode ser comprometido se não houver profundas transformações socioeconômicas que ainda não foram explicitadas. O total de empregos gerados pelo pré-sal é ínfimo, porque a atividade será praticamente mecanizada. Aliás, estes investimentos de R$ 50 bilhões até 2016 atrairão uma mão de obra que ficará desempregada com o fim das obras físicas, já que não terá aproveitamento numa indústria altamente especializada. O polo petroquímico de Caxias, maior polo industrial da periferia, por exemplo, emprega apenas 2,9% da população caxiense. A tão badalada indústria naval tem somente 25 mil empregados, que praticamente soldam chapas porque toda a parte tecnológica não é produzida aqui, sendo que é sustentada apenas por vontade política e demanda da Petrobras, quando, por exemplo, se estivesse vinculada a uma atividade como o turismo se eternizaria e geraria muito mais oportunidades de trabalho.

Uma região de beleza natural ímpar

Absurdos acontecem toda hora nas políticas públicas, como no caso da recém inaugurada Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), que polui exemplarmente, não paga impostos, porque goza de incentivos fiscais, e não alimenta um ciclo de empresas de transformação em seus arredores, porque 100% de sua produção vai para a exportação. Chega a ser patético o esforço desenvolvido para mostrar que a situação melhorou.

Um pesquisador conhecido apresenta números mostrando que, de 2000 a 2010, as vendas do comércio varejista no RJ cresciam 45,1%, enquanto na média nacional era de 60,9%, e que de fevereiro de 2010 a janeiro de 2011 a média do Rio de 10,6% é praticamente igual à média nacional de 10,7%, com o mesmo raciocínio na geração de emprego formal. Não se toca no assunto de que com a implantação da nota eletrônica a sonegação diminuiu bastante e que talvez estes números sejam em decorrência disto, até porque não houve uma mudança mercadológica que justificasse este avanço. O próprio PAC da casa própria, muito bem-vindo, precisa que haja um grande avanço empregatício para que não só a demanda seja atendida como os compradores tenham renda para executar os pagamentos em dia.

É preciso se pensar que a periferia do Rio é apenas dormitório, porque 70% de todo o emprego está na capital. Então desenvolver qualidade de vida para atrair empresas para esta região implica necessariamente em um planejamento estratégico que tem que pensar que o petróleo é finito, que a indústria de transformação sofre uma concorrência desleal da China, que vem produzindo até miniaturas do Cristo Redentor para os turistas (tomando o lugar do artista nacional), e que a sustentabilidade é a palavra-chave no século 21.

Alguém já ouviu falar em turismo como uma atividade que quando é bem conduzida se eterniza com qualidade e que o Rio apresenta o maior potencial do setor no mundo? Para quem não sabe, o turismo é considerado a maior indústria existente, porque movimenta todos os setores da sociedade simultaneamente, sendo responsável por um em cada nove empregos do planeta. Existe turismo de lazer, negócios, de incentivo, médico, pedagógico, social, ecológico, de aventura, religioso, animal, especial, romântico, esportivo, radical, geriátrico, entre outras diversas opções, que movimentam bilhões de dólares cada uma anualmente, sendo que o Rio tem um potencial incomensurável que pode ser aplicado em todas as diversas categorias existentes, criando as mais diversas oportunidades para empreender em novos negócios, dentro de um clima tropical, com uma cultura muito diversificada e em uma região de uma beleza natural ímpar.

Turismo como instrumento de transformação

Explorada de forma racional e sustentável, poderemos multiplicar o número atual de turistas por trinta vezes em médio, curto e longo prazos, como delineia o Plano Maravilha, o primeiro e único estudo realizado sobre o setor com a participação de toda a sociedade e técnicos espanhóis. Com o detalhe de que, uma vez desenvolvida a atividade, eterniza empregos e a qualidade de vida, pois uma cidade só é boa para os visitantes, quando também é para os moradores.

Para finalizar, é interessante frisar que em todos os lugares do mundo que o turismo foi utilizado como instrumento de transformação os resultados aparecem em curto prazo, como em Bilbao, que, do nada, se recuperou dez vezes o capital investido só nos dois primeiros anos.

O turismo desenvolve todo o potencial da indústria criativa, que é a atual coqueluche mundial, pois gera milhões de empregos e movimenta bilhões de dólares, produzindo produtos de qualidade com a marca “made in Brasil”. Atrairá toda uma indústria periférica necessária ao bom funcionamento da atividade que trabalha otimizada (shows, peças teatrais, cinema, bares, restaurantes, moda, museus, parques temáticos, danceterias, parques, lojas nacionais e internacionais, TI…), o setor internacional de serviços que é considerado o filé da economia mundial. Desenvolverá o Rio como um todo, levando desenvolvimento a todos os lugares.

O Rio atual é uma festa na área de negligência pública e precisa mudar. O pior ensino em todas as unidades da federação, leitos hospitalares nem com mandato judicial e prisão dos administradores, epidemias endêmicas anuais, perda média de pelo menos uma hora e meia do dia para ir ao trabalho, mais de um milhão de desempregados ou subempregados, depois de determinados horários ausência total de transporte público, esgotamento sanitário a beira de transformar o meio ambiente numa imensa cloaca, passarelas que caem, bueiros que explodem, bens tombados que ardem em chamas ou se arruínam por falta de conservação, enquanto R$ 243 milhões serão gastos sem licitação, coincidentemente com a Fundação Roberto Marinho, dona do maior veículo de comunicação do estado, quiçá do país, em novos museus, sendo que dois deles descaradamente não têm sequer acervo, quando os que já existem e têm o que mostrar não tem nem visitação nem verba para atrair os visitantes.

Daí ao autor do tal artigo publicado no Globo dizer que esse clima otimista já chegou às ruas, só se for à rua dele, convenhamos! Ele chegou ao cúmulo de arrumar um taxista que recebe um turista no Galeão dizendo que o Rio está ficando igual a uma cidade do primeiro mundo, quando na realidade nenhum taxista está aguentando um trânsito que a cada dia que passa fica mais lento e engarrafado. No final do artigo, contudo, parece cair na real por um momento e admite que ainda falta muito para chegarmos ao primeiro mundo, que os desafios que temos pela frente são imensos, mas, observa então, que pela primeira vez tem razões para ficar otimista quanto ao Rio.

Por que será que não se pensa em obter qualidade de vida, como no primeiro mundo, ou enfrentar desafios imensos ou em ficar otimista com o futuro usando o único caminho para isso: um projeto que tem aprovação de diversos secretários estaduais e municipais capaz de unir toda a sociedade? Capaz de um aumento substancial da renda per capita, gerando, inicialmente, 2 milhões de novos empregos, aumento da arrecadação em bilhões de dólares, permitindo um crescimento planejado com metas em curto, médio e longo prazos, via planos de negócio apoiados no aumento estimado da arrecadação que sustentem a atualização da infraestrutura a um padrão internacional, desenvolvendo qualidade de vida, toda uma indústria periférica, o setor internacional de serviços, o incremento total da indústria criativa e uma nova ordem socioeconômica, cultural e ambiental que levará o Rio de “Cidade Partida” a vanguarda mundial como a “Cidade Maravilhosa” de verdade, acabando definitivamente com o atual abismo de classes e apresentando uma economia exuberante, rapidamente, como, aliás, aconteceu em todos os lugares do mundo onde o turismo foi utilizado como instrumento de transformação.

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Engenheiro, arquiteto e coordenador do movimento Acorda Rio