Sábado à noite, feriado nacional (1/5), descontração, nenhuma tragédia à vista – a não ser a tragédia grega – e eis que o Jornal Nacional solta uma bomba: o Vaticano assumiu o controle da Legião de Cristo, condenou o seu fundador, o sacerdote mexicano Marcial Maciel, por abusos sexuais e o classifica como ‘homem sem escrúpulos’.
Um mês antes, os interventores da Santa Sé na Legião de Cristo anunciaram os resultados de uma longa investigação e, embora a mídia internacional acompanhasse o caso de perto, no Brasil ficou sob embargo, sobretudo porque a condenação de Maciel atinge diretamente o papa João Paulo II, seu protetor, verdadeiro padrinho.
O que levou os editores do Jornal Nacional a liberar a notícia? Desatenção? Impensável. Tudo indica que acabou a política do sigilo e a prova foi dada no domingo (2/5), pelo Globo: apenas o jornalão carioca noticiou o desmonte da ordem.
Na surdina
Como nada acontece por acaso, nem isoladamente, os novos ventos logo soprarão nas demais redações. Para os privilegiados leitores do site do Observatório da Imprensa, o padre Maciel é figura manjada, mas convém lembrar aos demais leitores e ouvintes que o mexicano não foi apenas um pecador, delinqüente e tarado, era também um militante político de extrema importância.
Os Legionários de Cristo eram o braço armado da ultra-direita católica. A Legião prosperou durante a longa ditadura franquista na Espanha, expandiu-se no Novo Mundo e em parte dos Estados Unidos. Apesar dos votos de celibato e castidade, Maciel amasiou-se com pelo menos duas mulheres, teve três filhos e abusou sexualmente deles.
Grandes mudanças muitas vezes são noticiadas em surdina, sem estardalhaço. O tranqüilo noticiário sobre a ruína da Legião de Cristo pode significar profundas modificações na imprensa brasileira.
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