Duas das principais agências de notícias brasileiras divulgaram, na manhã deste sábado (15/1), que o novo avião presidencial – batizado de Santos Dumont – finalmente chegou à capital do país. Em matérias algo semelhantes (o que ocorre com freqüência mais do que acidental), lê-se o seguinte:
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Na Agência Folha, em matéria que foi ao ar às 11h03 (segundo o próprio sítio), encontramos a manchete: ‘Novo avião presidencial pousa em Brasília’ (www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u66697.shtml). Em oito minguados parágrafos, ficamos sabendo que o ‘AeroLula’, como menciona o texto, custou US$ 56,7 milhões.
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Na Agência Estado, em matéria que foi ao ar às 11h19 (também segundo o próprio sítio), nos deparamos com a criativa manchete: ‘Novo avião do presidente Lula chega a Brasília’ (www.estadao.com.br/nacional/noticias/2005/jan/15/15.htm). Em três parágrafos, ficamos sabendo que o Airbus Corporate Jetliner A-391, como diz o texto, custou 154 milhões de reais.
A Folha informa que, segundo o governo, o custo da compra se justificaria porque o novo modelo vai servir aos presidentes brasileiros pelos próximos 30 anos. (Trocando em miúdos, isso seria equivalente a gastar cerca de um milhão e novecentos mil dólares por ano em passagens aéreas para o presidente e sua comitiva.) Em seguida, a matéria reproduz comentários aparentemente oficiais, segundo os quais o novo avião presidencial seria mais do que uma simples aeronave de transporte, a saber:
Segundo a Aeronáutica, ‘tanto em um ambiente de crise, como na possibilidade de um conflito, ele passa automaticamente a integrar o sistema de defesa do país e transforma-se em um posto de comando no ar, por meio do qual o presidente da República, Comandante Supremo das Forças Armadas, coordena as ações essenciais para a segurança do território nacional’.
A matéria da AE sequer menciona essa natureza, digamos, transformista da nova aeronave presidencial. Em compensação, uma informação que só encontramos na matéria da AE é que a imprensa, por motivos de segurança, não terá acesso ao interior da aeronave.
Metade do preço
Curiosamente, porém, o que até agora ninguém na mídia explorou em detalhes ou sequer mencionou é o seguinte: a aeronave presidencial veio equipada com um sistema antimíssil, o que encareceu um bocado o seu preço final. Nas palavras de uma engenheira que trabalha na indústria aeronáutica brasileira: (…) a plataforma do avião é a mesma do A319, o que me leva a crer que ele poderia perfeitamente ter comprado um 170, que é muito mais barato. Mas não, queria um avião com sistema antimísseis.
Realmente, com as coisas que ele anda fazendo no governo… ele vai precisar dessa proteção. Sistema antimísseis! De onde surgiu idéia tão brilhante e apropriada? É coisa de assessores? Civis ou militares? Ou seria apenas mais um dos pré-requisitos que o país precisa cumprir antes de conseguir um assento no Conselho de Segurança da ONU? (De minha parte, torço apenas para que essa geringonça enferruje, sem que jamais precise ser utilizada.)
Em tempo: minha fonte comentou também que, sem o tal sistema antimíssil, o novo avião presidencial talvez custasse a metade do preço…
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Biólogo, autor do livro Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2003)