Claro, tudo natural, nada como seguir os procedimentos formais da ISO9000, as vidas humanas não contam, até porque as fatalidades podem ocorrer.
A imprensa não pode ser culpada, ela apenas registrou os fatos, como no excelente filme Os imperdoáveis, de Clint Eastwood, quando o delegado dá a arma para o jornalista, diz ‘Dá a arma pra ele (que está na cela)’, e ouve: ‘Estou aqui apenas para registrar os fatos.’ Em se tratando disso, as emissoras foram isentas, tanto a Globo, como a Record, a Band e, um pouco mais sensacionalista, a Rede TV!, mas todas sem nenhum exagero.
Aí é que chego no principal: o valor da vida, limitada a procedimentos formais e apólices de seguro e como transferir responsabilidades: afinal, quem errou? Quem sobreviveu? O que fazer para que isso não mais ocorra?
Continuamos a enforcar gente
Ninguém sabe, todos se omitiram, e o choro dos parentes das vítimas continuam peregrinando em silêncio.
Em pleno século 21, a humanidade continua andando para trás, acabamos nos contentando com a evolução tecnólogica, computadoroes, celulares, DVDs e afins satisfazem a maneira do jeito de ser do cidadão (?) atual.
Os bordões antigos foram manchados, como aquele dos bombeiros: ‘São verdadeiros heróis.’ Heróis de quê?
Nos incêndios do Joelma, do Andraus, o bombeiro levantava o dedo indicador para o capitão quando iria se arriscar, dizia ‘Tem uma senhora pedindo socorro’ e se atirava e arriscava a própria vida; hoje, a regra é seguir o procedimento padrão: ‘Se não houver chuva, dá para descer. Posso, capitão?’
O problema não foi só o que foi transmitido por TVs, rádios e jornais, mas como se registrou a frieza dos fatos, seguidos de choro por indenizações, apólices de seguro, contratos de empreiteiras e de trabalho.
Jamais se falou sobre o valor da vida.
Foi lamentável. E continuamos a enforcar gente nos dias de hoje. Avanço mesmo, só na tecnologia.
E para quê?
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Professor, São Vicente, SP