ELEIÇÕES 2006
Dora Kramer
Um dossiê só não faz verão
“O presidente Luiz Inácio da Silva analisou com clareza os fatos quando, em entrevista a emissoras de rádio do Nordeste, atribuiu o malogro do projeto de vitória em primeiro turno a uma série de fatores, e não apenas aos efeitos da tentativa do PT de desmoralizar o adversário por meio da montagem de um dossiê – ou vários, como vai sendo revelado por indicação da existência de outras ações semelhantes em Minas Gerais e na Bahia.
Lula citou alguns – o ‘salto alto’ decorrente da certeza da vitória de véspera, o ‘jogo da oposição’, a ausência no debate da TV Globo -, mas ignorou o mais importante: o conjunto da obra.
No quadro geral, o dossiê foi apenas uma obra mal feita e inacabada que funcionou como o resumo de uma ópera que parecia, mas não estava esquecida na cabeça do eleitorado.
Atribuir só ao dossiê Vedoin o descompasso entre as pesquisas e o resultado das urnas é acreditar piamente no mito da blindagem sem causa e na hipótese absurda de que o eleitorado julgaria quatro anos de governo por um episódio único, isolado e oficialmente provocado por uma campanha estadual.
O presidente candidato à reeleição percebe que não foi e quase toca no ponto quando conjectura: ‘Um diz que foi o debate, outro que foi a quantidade de inverdades ditas. Acho que tem a ver com muito otimismo da minha tropa, tem a ver com as denúncias do dossiê, tem a ver com o trabalho dos adversários.’
‘Tem a ver’, sobretudo, com as ‘inverdades ditas’ nas diversas crises e escândalos, desde o primeiro, em fevereiro de 2004, quando o governo e o PT quiserem convencer o País de que o fato de o principal assessor parlamentar do ministro-chefe da Casa Civil pedir propina e negociar financiamentos de campanhas com um bicheiro era um caso isolado. Tão normal que não havia razão para negar ao autor do flagrante delito o privilégio da demissão ‘a pedido’.
Daí em diante, tudo o que apareceu foi tratado na base da ‘inverdade’ e do propósito de confundir a cabeça do cidadão, levando-o a concluir que o exercício do poder público, no Executivo e no Legislativo, resume-se a uma competição entre corruptos.
Reconheça-se, houve sucesso parcial. Tanto que o presidente passou pela primeira etapa da eleição como favorito. Só não pôde saborear com mais entusiasmo o feito porque ele próprio e sua ‘tropa’ trataram de pintar o cenário do segundo turno como adverso, resultado só possível como fruto de ‘golpe’ da oposição empenhada em interditar a vontade do eleitor.
Agora o presidente não tem outro jeito a não ser saudar como ‘positiva’ a realização de uma nova etapa, mas também não tem como escapar do julgamento de que esta seja mais uma ‘inverdade’.
Consolida a desconfiança quando uma hora desqualifica o dossiê, na outra o legitima, pedindo atenção para seu conteúdo, e ao mesmo tempo não desautoriza a propagação da versão segundo a qual tudo não passou de uma armadilha montada pelo PSDB para pegar os petistas.
O jogo de declarações desencontradas, de histórias mal contadas e justificativas mal-ajambradas acabou voltando-se contra o PT – como demonstra a perda de mais de 2 milhões de votos em relação à eleição parlamentar de 2002 – e fez o eleitorado decidir não entregar o cheque em branco que Lula esperava ter recebido domingo passado.
Quanto ao debate, é muito capaz de ter pesado mais contra Lula o faz-de-conta do vai-não-vai durante todo o dia do que propriamente sua ausência, de resto amplamente anunciada desde o início da campanha, quando acreditava na vitória do primeiro turno e, portanto, na possibilidade de escapar dos debates, confirmando presença só na etapa final.
Face à frustração provocada pelo segundo turno, seria de se esperar uma alteração de procedimentos. Houve, mas outra vez de maneira artificial.
A humildade estudada do presidente na sua primeira aparição pública depois do resultado foi confrontada com a soberba anterior e ontem produziu outra maquiagem no episódio do afastamento de Ricardo Berzoini da presidência do PT. Tudo combinado para dar a Lula o argumento da ‘punição exemplar’ no debate de amanhã na TV Bandeirantes.
Ainda assim, Lula insistiu em fantasiar, defendendo a permanência de Berzoini para simular a independência das decisões tomadas pelo PT – aí incluída a operação dossiê -, engrossando o plantel de ‘inverdades ditas’.
De bandeja
Dois argumentos usados pelo presidente do PPS, deputado Roberto Freire, pesaram na volta de Denise Frossard e Cesar Maia à campanha de Geraldo Alckmin.
Primeiro, com a reação de repúdio estridente ao apoio de Anthony Garotinho acabaram valorizando um político que estava recolhido ao ostracismo.
Segundo, abriram a Garotinho a possibilidade de contabilizar os dividendos em caso de vitória de Alckmin.
A neutralidade na política, na visão de Freire, não beneficia o neutro. ‘Só dá certo na Suíça e, ainda assim, nem sempre.’”
TELEVISÃO
Julia Contier
Esconda as crianças
“O SBT estréia amanhã a segunda temporada do programa Supernanny. A versão brasileira do reality show inglês foi um sucesso de audiência no canal, marcando em média 15 pontos no ibope. A emissora aposta que vai repetir a dose.
O programa continuará a ajudar famílias com dificuldades em educar os filhos, mas terá algumas novidades. Desta vez, sai do tradicional família feliz, com pai, mãe e filhos morando juntos e começa a atender pais que vivem separados.
A pedagoga Cris Poli promete usar novos métodos na reeducação. Um deles é o ‘fique aí’, em que as crianças desenham seus medos e o guardam em uma gaveta com a frase: ‘Fique aí!’ Mas, o famoso ‘cantinho da disciplina’ continua. As crianças ainda vão se sentar no banquinho ou no tapetinho para pensar nas atitudes erradas.
A Superbabá explora outros problemas dessa vez – há um caso de obesidade infantil. Outra novidade é que Cris Poli agora viaja para cidades além do Estado de São Paulo. Uma das famílias é do Rio.
Até agora, 17 mil famílias já se inscreveram para participar do reality show pelo site do SBT (www.sbt.com.br).
entre- linhas
Recuperado de uma virose,Tarcísio Meira volta a gravar Páginas da Vida na próxima semana.
A Net disponibiliza, até o final do mês, os canais infantis Boomerang (57), Disney Channel (67) e Jetix (56) para toda a base de assinantes. Quem tem seleção digital também terá acesso à TV Rá-Tim-Bum (29).
A turma de atores que entrará na segunda fase da minissérie Amazônia, da Globo, já embarcou para o Acre. Entre eles, Regina Casé, que será uma parteira na história de Glória Perez. Estréia em janeiro e fica no ar até março.
Uma cafetina é a personagem que aguarda por Suzana Vieira em Paraíso Tropical, próxima novela das 9 da Globo. A atriz faz uma participação especial na história, assinada por Gilberto Braga.
Amanhã, às 19h30, a MTV transmite os melhores momentos do Motomix Art Music, com destaque para o encerramento da turnê da banda Franz Ferdinand.
Amanhã é o ‘Dia Nacional Contra a Baixaria na TV’ e, para esclarecer o público sobre a ação e as regras da publicidade voltada para crianças e adolescentes, a TV Câmara coloca no ar um especial sobre o tema no Ver TV, às 14 horas.
A dupla mais vitoriosa do vôlei de praia, Ricardo e Emanuel, está no Momento Olímpico da SporTV2, hoje, às 21h30.
Nova safra de heróis
A animação Mega Liga de VJs Paladinos volta hoje ao ar na MTV, em nova temporada, com 12 episódios. Entre as novidades, a chegada dos novos VJs: André, Luisa, as gêmeas Keyla e Kênya, e Felipe. O Mega Liga vai ao ar às 21 horas.”
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