Os últimos números da pesquisa de intenção de voto divulgados pela imprensa de São Paulo indicam algumas mudanças importantes no cenário eleitoral da capital paulista. Ao mesmo tempo, já produzem eventos bizarros do tipo que consagrou “Marronzinho”, notório personagem de campanhas dos idos de 1980.
Naquela época, os candidatos Paulo Maluf e Jânio Quadros se valiam de um jornalista da cidade de Osasco, cujo apelido era “Marronzinho”, para atacar seus adversários. Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas foram vítimas de suas publicações.
Nesta semana, os usuários do metrô paulistano e dos trens metropolitanos foram surpreendidos pela distribuição agressiva de uma revista intitulada Free São Paulo, cujo claro objetivo é atacar o Partido dos Trabalhadores e, evidentemente, seu candidato Fernando Haddad. A publicação, que tem escrachado caráter partidário, já foi motivo de uma representação judicial do PT no começo de junho, por causa de uma reportagem sobre o assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel. A direção do partido considera que o material consiste em um “festival de calúnias e difamações” sem base na realidade, conforme foi divulgado na ocasião.
Promessas eleitorais
Curiosamente, a revista reaparece nas estações do metrô paulistano e nos trens metropolitanos, desta vez com acusações contra o ex-presidente Lula da Silva, na maioria apoiadas em recente material da revista Veja sobre uma suposta entrevista do publicitário Marcos Valério a respeito do escândalo conhecido como “mensalão”.
Originada num blog (ver aqui), a publicação tem como um de seus principais anunciantes a Universidade de Guarulhos, cujo proprietário, Antonio Veronezi, apoia publicamente candidatos do PSDB. A revista pertence ao grupo Mídia Guarulhos, que edita também jornais gratuitos e o portal Guarulhosweb.
A prática de utilizar publicações periféricas para atacar adversários políticos tem a idade da República, mas, com o advento da internet, passou a integrar as estratégias dos marqueteiros de campanha: quando o candidato não tem coragem de verbalizar certas acusações contra os concorrentes, recorre aos profissionais do tipo.
Trata-se de verdadeira epidemia: militantes e simpatizantes do PT também dizem atrocidades dos adversários de Haddad nas redes sociais digitais.
De resto, a baixaria explícita ou dissimulada em publicações mais ou menos apócrifas apenas reproduz o velho recurso de atacar com generalidades e repetir bordões e promessas improváveis.
O ex-governador Paulo Maluf, que neste ano apoia o candidato do PT em São Paulo, foi um mestre nesse artifício. Um exercício divertido de observação pode ser feito visitando velhos registros de campanhas eleitorais (ver aqui), nos quais desfilam o próprio Maluf, além de Montoro, Covas, Lula, Collor, Jânio e Leonel Brizola.
A impressão que se tem é a de que a classe política, ou pelo menos parte dela, não consegue ou não pretende evoluir. Qualquer semelhança, por exemplo, entre o discurso de Maluf e o do candidato do PRB em São Paulo, Celso Russomanno, não é mera coincidência.
Na verdade, se a Justiça Eleitoral não tem recursos para disciplinar a linguagem dos candidatos ou os meios escusos que alguns utilizam para desqualificar os adversários, restaria à imprensa o papel de conferir as possibilidades reais de concretização de promessas eleitorais, os currículos apresentados pelos candidatos e até mesmo refrescar a memória dos eleitores a respeito de fatos e números citados na propaganda eleitoral.
Números da pesquisa
O papel dos marqueteiros é inventar personagens que sejam bem aceitos pelo eleitorado, construindo perfis que geralmente não têm relação com os protagonistas reais da política e pesquisar assuntos que sejam mais do agrado da grande massa dos eleitores. Não é coincidência, por exemplo, que a questão da violência esteja mais presente na campanha pela prefeitura de São Paulo neste ano.
Embora a segurança pública seja uma atribuição do Estado, ao tomar conhecimento de que nos extremos Leste e Sul da cidade a maioria da população se sente abandonada nas mãos de criminosos, o marqueteiro traz o assunto para a pauta da eleição municipal.
Mas se a imprensa não esclarece devidamente os papéis de cada instância da administração pública, fica fácil enganar o distinto público com promessas de vigilância total nos becos e quebradas da periferia.
Agora que as pesquisas mostram a subida do candidato petista para o segundo lugar, com o peemedebista Gabriel Chalita em leve ascensão e o tucano José Serra escorregando na maior taxa de rejeição, não faltará trabalho para o jornalismo bandalho dos “Marronzinhos”.