Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Obama decepciona os extremos

Se há uma coisa que une os analistas ultraconservadores e os ultraesquerdistas, esta coisa é a idéia de quem quer que governe os Estados Unidos, governará em nome do status quo e sem grandes mudanças na política e na economia. Em outras palavras, democratas ou republicanos, tanto faz, o presidente estaria a serviço do imperialismo (para a ultraesquerda) ou não teria forças para enfrentar o Senhor Mercado e a Liberdade Individual (para a ultradireita).


O post reproduzido abaixo, do colunista de Veja Reinaldo Azevedo, já revela uma certa decepção da ultradireita com Obama. Reinaldão passou a campanha e o período pré-posse dizendo que Obama seria um George W. Bush mais light. Agora, o jornalista parece estar revendo o seu conceito, mais um pouco vai estar comparando o líder norte-americano a Hugo Chávez. Não deixa de ser engraçado vê-lo dar o braço a torcer.


Na ultraesquerda, a postura é a mesma, com o sinal invertido. Como a turma espera que Obama comece a desapropriar os bancos, ordene a retirada das tropas do Iraque no primeiro mês de governo, entre outras sandices impossíveis de serem executadas sem que o presidente seja deposto do cargo – legalmente, diga-se –, então a turma já o coloca entre os carrascos imperialistas, na companhia do cowboy Ronald Reagan, Bush pai e filho, Clinton e todos os ex-presidentes americanos.


Barack Obama não é uma coisa nem outra, o tempo ainda vai dizer o que ele é. Uma coisa, porém, já pode ser ressaltada: o novo presidente dos EUA usa a mídia com muita competência e vem criando fatos políticos em profusão, como a medida relatada no post de Azevedo, que vai a seguir, na íntegra.


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Demagogia do Barack


Reproduzido do blog de Reinaldo Azevedo, 5/2/2009


Demagógica e cretina a medida do presidente Barack Obama, que exige que os dirigentes de empresas que receberem auxílio do governo tenham um salário de, no máximo, US$ 500 mil anuais. Leiam este trecho de reportagem da Folha:


‘Vivemos na América. Não renegamos a riqueza e não invejamos quem consegue ser bem-sucedido. E acreditamos que o sucesso deva ser recompensado. Mas a América renega os executivos recompensados pelo seu fracasso, especialmente os subsidiados pelos contribuintes, que estão pessoalmente passando por tempos difíceis’, disse Obama. O anúncio foi feito ao lado do secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, que deixou de recolher milhares de dólares em impostos e que quase teve sua indicação rejeitada pelo Senado.


Pois é… As coisas estão começando a se complicar. Esse moralismo babaca excita, gera calor, mas não gera solução. Certo, certo, em tempos bicudos, é provável que os tais executivos não encontrem alternativa e aceitem a imposição. Mas duvido que os melhores – e as empresas precisarão dos melhores – não busquem alternativas. Embora Obama tenha prometido reconstruir a América, a verdade é que ela não foi destruída. Ainda restam por lá mercado e economia…


As coisas estão assumindo contornos um tanto estranhos. Já sabemos que Obama se preocupa com os direitos dos terroristas, o que demonstra a sua largueza de espírito. Há também os direitos dos executivos, que terroristas não são. Desde que assumiu, Obama decidiu caçar seus marajás. Com esse jeitão latino-americano de fazer política, podemos lhe fornecer tecnologia…


Sem contar que tanto moralismo contrasta com sua trupe, que não chega a ser composta dos primeiros alunos no curso de moral e civismo. Ai, América, América, quantos erros ainda se cometerão em seu nome!