Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Obama tenta aproximar-se da mídia

Na sua primeira semana no cargo, o presidente Barack Obama tropeçou quando fez uma visita-surpresa à sala de imprensa da Casa Branca. A ideia era ter um contato informal com os jornalistas, mas ele se desconcertou quando começaram a questioná-lo. ‘Não posso fazer uma vista para cumprimentá-los se tiver de passar por um interrogatório cada vez que aparecer aqui’, disse.


O pessoal da equipe de imprensa de Obama ressaltou que pretende reformular as antigas tradições de cobertura da Casa Branca. Eles podem encontrar um bom exemplo nas táticas adotadas por Franklin Delano Roosevelt. Nenhum presidente teve uma cobertura mais favorável da imprensa do que ele. A tradição de manter a imprensa mais à distância remonta ao governo de Dwight Eisenhower. Foi arquitetada por James Haggerty, seu excepcionalmente capaz secretário de imprensa, para tirar partido do comando e da aura de invencibilidade que Eisenhower emanava.


De pé, diante dos jornalistas na Casa Branca, respondendo às perguntas com exatidão (ou imprecisão, quando deliberadamente resolvia confundir), Eisenhower tranquilizava a nação. Seu índice médio de aprovação era de 64%.


Todos os presidentes que o sucederam adotaram o modelo de Haggerty. Mas é um modelo que cria uma relação de confronto: o presidente de um lado do pódio, a imprensa do outro.


Perguntas diluídas


Roosevelt optou por um enfoque mais pragmático. Em vez de se reunir formalmente com a imprensa na Ala Leste, ele convidava os jornalistas creditados na Casa Branca para o Salão Oval.


Seus predecessores, Calvin Coolidge e Herbert Hoover, exigiam que as perguntas fossem apresentadas previamente e respondiam apenas as que queriam. Roosevelt não rejeitava nenhuma pergunta. Mas eram estabelecidas algumas regras.


Roosevelt não respondia a perguntas hipotéticas ou que tratassem de assuntos que ‘por diversas razões, não pretendo discutir, ou não estou pronto para isso, ou não sei nada a respeito’. Ele afirmava que não queria ser citado diretamente, a não ser que seu secretário de imprensa, Steve Early, fornecesse a citação por escrito.


Notícias diretas podiam ser atribuídas à Casa Branca, mas algumas observações feitas pelo presidente que pudessem servir como referência para os jornalistas podiam ser usadas, mas não atribuídas a ele. E qualquer material confidencial extraoficial não podia ser divulgado para ninguém.


A imprensa ficou encantada. Em sua primeira coletiva, em 8 de março de 1933, quatro dias após a posse, Roosevelt cumprimentou cada um dos 125 jornalistas presentes e bateu um papo com eles durante 40 minutos. Não forneceu nenhuma informação relevante que pudesse ser usada, mas a informalidade que marcou o encontro vigorou nos 12 anos seguintes.


‘Roosevelt expressava assombro, curiosidade, simpatia, alegria, decisão, dignidade e um charme incomparável’, observou o jornalista John Gunther. ‘Mas não disse praticamente nada. As perguntas eram desviadas, diluídas. As respostas – quando vinham – eram concisas e claras. Mas nunca vi ninguém com tanta capacidade para evitar uma resposta direta e, ao mesmo tempo, dar ao entrevistador o sentimento de que a pergunta foi respondida’, disse Gunther.


Bom humor


Ao serem convidados para o Salão Oval, os correspondentes tinham o sentimento de participar do novo governo e de serem tratados como parceiros. Não havia favoritismos.


‘Éramos antagonistas’, escreveu Richard Lee Strout, do Christian Science Monitor. ‘Mas todos se gostavam, nós ríamos, entendíamos perfeitamente o que cada um estava tentando fazer, e prevalecia uma certa afeição entre nós.’ E essa afeição, sem dúvida, ajudou Roosevelt a superar alguns períodos difíceis. Quando a maioria dos editores se opôs a ele, Roosevelt recebeu uma cobertura favorável dos jornalistas credenciados na Casa Branca.


As conferências eram realizadas às 10 horas de quarta-feira, para as edições da tarde, e às 4 horas da madrugada de sexta-feira para as edições matinais. Quando irrompeu a guerra, as reuniões eram menos frequentes, mas, no total, ele concedeu 998 entrevistas coletivas como presidente.


Roosevelt, que foi editor-chefe da Harvard Crimson, considerava-se um ex-jornalista. Apreciava a companhia dos jornalistas e entendeu plenamente como eles podiam se ajudar mutuamente.


Obama, ex-editor-chefe da Harvard Law Review, também pode reivindicar sua experiência jornalística, além de seu temperamento acessível, o bom humor e a presença marcante. Como Roosevelt, Obama deveria manter uma posição informal em relação à imprensa.

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Colaboradora do New York Times