Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ombudsman: cargo em extinção

O cargo de ombudsman foi tema da coluna de domingo [13/5/09] do próprio ombudsman do Washington Post, Andrew Alexander. A publisher do Post, Katharine Weymouth, participou de um debate no Newseum, na semana passada, sobre ‘espécies em extinção’ nas redações. Na platéia estavam dezenas de membros da Organização dos Ombudsmans de Imprensa (ONO), que passou a ter menos associados na medida em que a crise financeira forçou grupos de mídia a reduzir equipes em todo o mundo.


Katharine lembrou que, quando se chegou o momento de contratar um novo ombudsman, no ano passado, com o Post perdendo dinheiro, ela teve que se questionar: ‘o cargo é essencial?’. Ao contrário do Post, muitos jornais decidiram que não. Pelo menos 14 ombudsmans de organizações de mídia americanas perderam seus empregos desde o começo de 2008. Apenas alguns permanecem membros da organização. Existe o temor de que os efeitos da crise econômica piorem a situação da indústria jornalística em todo o mundo, com muitos veículos já eliminando este posto.


Rem Rieder, editor e publisher da revista American Journalism Review, confessa que é comum o questionamento de se manter o cargo em tempos de crise. ‘Muitos executivos já se perguntaram: ‘cortamos o ombudsman ou o repórter que cobre a prefeitura?’’, analisa.


Na era da internet, qualquer pessoa pode checar os fatos de uma reportagem e informar seus erros ao mundo. Para alguns, isto serve como justificativa para que ‘editores-cidadãos’ assumam as tarefas de um ombudsman. A blogosfera, por exemplo, pode fornecer um monitoramento editorial e também críticas de mídia. Ainda assim, os ombudsmans se vêem como mais essenciais que nunca. Muitos dos que compareceram ao evento no Newseum contam que recebem inúmeros pedidos e reclamações de um número cada vez maior de leitores, telespectadores e ouvintes.


Alexander, por exemplo, espera receber mais de 50 mil e-mails, telefonemas e cartas este ano. Muitos leitores pedem esclarecimentos de padrões jornalísticos; outros estão curiosos para saber como o Post irá sobreviver e evoluir online; e alguns pedem correções e opiniões de um jornalista profissional que foi contratado pela administração para confrontar diretamente repórteres e editores com questões não tão agradáveis.


Posição neutra e tarefas nobres


Ombudsmans em todo o mundo recebem várias denominações; alguns são chamados de ‘representante dos leitores’ ou ‘editor público’. Outros têm uma função mais ampla, lidando com questões como reclamações na entrega dos jornais. Poucas organizações de mídia, como o Post e o New York Times, ainda possuem ombudsmans independentes. O contrato de dois anos de Alexander, por exemplo, lhe dá total independência. Seria o que o editor-executivo do NYTimes, Bill Keller, certa vez descreveu como ‘um estranho com uma plataforma e um passe livre no jornal’.


Desde que Alexander foi contratado para substituir Deborah Howell, cujo contrato havia terminado, a situação financeira do Post piorou. O grupo Washington Post Co. reportou recentemente que sua divisão de jornais teve perdas operacionais de US$ 53,8 milhões no primeiro trimestre. Diante deste cenário, Alexander perguntou à publisher se, com o fim de seu mandato de ombudsman, ela manteria o cargo. ‘Sim. A internet criou uma zona sem fronteiras na qual leitores criticam o quanto querem. Mas o papel do ombudsman é muito mais que dar aos leitores um lugar para se expressar’, respondeu ela, completando que o papel do ombudsman é mais que levar as preocupações dos leitores para dentro do Post; é agir como um ‘crítico interno’ para incentivar mudanças e ser um ‘crítico público’ com uma plataforma oficial para chamar atenção para determinados temas e problemas. ‘Ter um ombudsman é admirável e inteligente, em especial no período em que o público está cético em relação à mídia. Ombudsmans podem fortalecer a credibilidade e a confiança na imprensa’, conclui.