O presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebello (PC do B), chamou Nelson Sirotsky, da Rede Brasil Sul (RBS), presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), ou seja, representante do patronato das comunicações, para comemorar o Dia da Liberdade de Imprensa (3 de maio). Mais voltado para os 15 segundos de fama do Jornal Nacional, em vez de dar força ao grupo midiático representado por Sirotsky, que está mais preocupado com a liberdade de empresa do que da imprensa, Rebello deveria ter aproveitado a oportunidade para promover um sério debate entre os deputados sobre como funciona o esquema do pensamento único. Poderia estender os trabalhos para deixar claro que certos órgãos de imprensa (como a Veja, por exemplo, que está filiada a ANJ) se transformaram em partidos políticos de direita.
Os parlamentares poderiam também discutir a democratização das verbas públicas, ou seja, a distribuição de forma equânime da publicidade do Estado brasileiro para todas as mídias, inclusive a alternativa (alternativa à grande mídia), evitando assim que o governo (leia-se Poder Público) continue, como sempre, contemplando apenas a mídia conservadora. Essa distribuição de publicidade, aliás, deveria ser regulada em lei, para não ficar ao sabor de governos, mas, sim, se transformar de uma vez por todas em Política Pública. Ou seja, que independa deste ou daquele governo. Como Rebello possivelmente desconhece essa matéria, ou talvez não a considere relevante, não deve ter se interessado em aprofundá-la, preferindo o nada de novo no front midiático, ou seja, dar vez e voz aos big-shots da comunicação, os de sempre.
Rebello ganharia pontos, talvez muito mais do que imagina, se mandasse pesquisar a matéria de distribuição de verbas pública para a mídia em outros países, como na Suécia, por exemplo. Por lá, o Poder Público é obrigado por lei a dividir a publicidade estatal de forma equânime, ou seja, tantos por cento para a mídia tradicional e o mesmo percentual para a imprensa alternativa. Por lá, sai governo entra governo, o Estado sueco é obrigado a contemplar publicações de todas os matizes ideológicos, inclusive as vinculadas ao Partido Comunista.
O negócio do patronato
E tem mais: a RBS, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul, está devendo uma satisfação à opinião pública brasileira pelo comportamento adotado pelo grupo, seja na TV ou no jornal Zero Hora, no episódio da ação das mulheres da Via Campesina contra a empresa poluidora Aracruz Celulose e a cobertura dos movimentos sociais de um modo geral, uma prática manipuladora que se repete em vários pontos do país.
No caso da Aracruz Celulose, salvo uma ou outra publicação alternativa ou da imprensa sindical, praticamente nenhum jornal divulgou, por exemplo, a informação segundo a qual a família real sueca decidiu se desfazer das ações da empresa que exporta papel para o exterior – não que os reis sejam bonzinhos, mas foram informados pela imprensa e pressionados pela opinião pública – sobre a violação dos direitos humanos de indígenas e negros quilombolas no norte do Espírito Santo, além dos prejuízos ao meio ambiente que a Aracruz Celulose promove onde se instala. A mídia conservadora do Brasil preferiu considerar as mulheres meras ‘baderneiras’, não apresentando o outro lado.
Por estas e muitas outras, o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebello, pode ter perdido a oportunidade de levar os parlamentares ao debate e não apenas convocar a turma do oba-oba para, da boca para fora, falar em liberdade de imprensa, quando, na verdade, vale sempre repetir, o negócio do patronato midiático conservador é a liberdade de empresa.
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Jornalista