As primeiras interpretações sugeridas pelos apertados resultados eleitorais de domingo (1/10) têm a ver com a mídia: os grotões entraram para o universo mediático. Passaram a fazer parte das audiências, são sensíveis ao noticiário.
Portanto, é possível imaginar que:
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Os grotões não aprovaram a ausência do candidato Lula no debate na TV Globo;**
Os grotões ficaram impressionados com as fotos da dinheirama do dossiê IstoÉ-Vedoin.**
E, apesar da miséria, os grotões diminuem de tamanho. Se não em termos estatísticos, certamente nas suas percepções sobre o que é certo e errado.Significa que pobres também se preocupam com corrupção, significa que a questão moral não se circunscreve às ‘elites’ e começa a arrombar os currais. José Sarney que o diga. O homem nunca sofreu tanto para ganhar uma eleição.
As interpretações sobre a derrota do ‘carlismo’ baiano esmagado pelo rolo compressor do petista Jacques Wagner seguem a mesma direção: os currais eleitorais estão sendo tomados de assalto com o apoio do povão – este mesmo povão que uma parcela da esquerda, reacionária e autoritária, imaginava imune às sutilezas políticas.
O mesmo aconteceu no Paraná: Roberto Requião acreditou que a reação da mídia à sua truculência não alcançaria o eleitorado interiorano. Ao longo da campanha não escondeu a certeza de que venceria já no primeiro turno. Vai para o segundo e talvez fique no meio do caminho.
Bordão cansativo
Foi errada a estratégia adotada pelo comando petista no plano nacional de confrontar a imprensa. Os fatos eram gritantes demais para serem descartados ou creditados apenas ao ‘golpismo’ da mídia.
A imprensa não inventou as fotos do dinheiro. A demora da PF em divulgá-las e avançar nas diligências alcançou o Brasil Profundo. Para o povão o crime não compensa. Paulo Maluf voltou a receber uma votação expressiva, mas o eleitor de Maluf não é povão, é a classe media e média-alta que se identifica com o seu empreendedorismo.
A vitória apertada do presidente Lula pode ser entendida como uma derrota do palanquismo palaciano. O povão queria vê-lo ao lado de Alckmin e certamente torceria por ele. Embora o candidato tucano tivesse cometido todos os erros possíveis e imagináveis durante o debate, acertou num único quesito – estava lá.
Nas eleições de 2002, a imprensa sentiu-se observada e de certa forma refletiu os sentimentos dos diferentes segmentos da sociedade em favor do sindicalista bem-vestido, bem-humorado, vendendo esperanças.
Desta vez, Lula passou uma imagem tensa, algo raivosa e, sobretudo, arrogante. Aquele bordão ‘nunca neste país etc. etc.’ começou a cansar, não batia com a realidade. Sobretudo porque desta realidade fazia parte o mensalão, os dólares na cueca etc.etc., sempre escamoteados.
Os cabrestos de direita ou esquerda estão esgarçados. Os grotões agora ouvem, matutam, reagem. Não adianta culpar a imprensa e hostilizá-la. Melhor tê-la ao lado. Como da outra vez.