O circo da mídia vira mafuá de grotão quando ocorre um episódio como o do bobalhão que resolveu se matar da forma mais espalhafatosa possível levando um monte de jovens com ele. Era zero e queria ser um número. Como não o conseguiria por mérito ou talento, apelou para o método de Charles Manson – provavelmente a primeira insignificância a se tornar celebridade por promover uma matança sem pé nem cabeça.
A versão carioca também ansiava – ainda que inconscientemente – por visibilidade, pois a sociedade do espetáculo planta esta compulsão na cabeça dos videotas. E seu drama era mais patético ainda, por decorrer, em boa parte, de uma óbvia homossexualidade não assumida. Se o debiloide não reprimisse seus instintos (ou se tivesse consultado um analista), é possível que as coisas não chegassem a esse ponto.
Quinta-feira negra
Choca constatarmos que, meio século depois da liberação sexual, ainda haja quem se refugie dos seus desejos em delírios religiosos mortíferos! Parece uma variação do Repulsa ao Sexo, filme de Roman Polanski que, em 1965, já parecia enfocar um drama anacrônico… Menos datado é Na Mira da Morte (1968), de Peter Bogdanovich, o filme que mais fielmente expôs a pequenez e banalidade dos assassinos seriais. Nenhum deles é Hannibal. Todos são míseros Wellingtons.
De resto, ao dar tamanho destaque aos chiliques de um assassino repulsivo, a mídia de mafuá incentivou outros frustrados anônimos a seguirem seu bestial exemplo. Melhor seria se nem houvessem publicado seu nome. Melhor seria se as autoridades tivessem queimado de imediato a ridícula carta de suicídio.
Caso haja nova matança, todos já sabem de quem é a culpa: da imprensa vampiresca que se alimenta do sangue de vítimas como as desta 5ª feira negra.
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Jornalista e escritor – http://naufrago-da-utopia.blogspot.com