‘Um fantasma ronda as redações – o fantasma do comunismo. Todas as potências da velha Europa unem-se numa Santa Aliança para conjurá-lo: Marinho, Civita, Frias. Que partido de oposição não foi acusado de comunista por seus adversários no poder? Que partido de oposição, por sua vez, não lançou a seus adversários de direita ou de esquerda a alcunha infamante de comunista?’
Meu avô, respeitado comerciante em tempos idos, com seu jeito de quem já viveu muito e com a vida aprendeu, costumava dizer em tom professoral: ‘Fale com o dono da porcada, nunca com os porcos.’ Referindo-se, claro, àqueles que mandam, e não aos seus subordinados, que nada mandam ou resolvem – apenas cumprem ordens entre uma manifestação de apreço ou outra ao seu senhor.
De lá para cá, o termo porcada mudou de nome e configuração. Collor costumava usá-lo quando se referia a um determinado tipo de jornalista ou jornalismo. Nos tempos pós-modernos em que vivemos, PIG (porco, em inglês), passa também a designar um determinado tipo de jornalismo, ou melhor, de uma imprensa baixa e golpista em sua própria natureza.
Um estilo de vida
A designação PIG é criação de um leitor do ilustre e corajoso jornalista de nome Paulo Henrique Amorim, que um dia já foi boi, mas agora é cavaleiro. Este senhor jornalista conhece bem o PIG e o tipo de gente que o serve e se serve dele. Enfim: o estilo – style – PIG de ser e de usufruir das benesses decorrentes da opção. Luis Nassif também é um especialista, mais bem comportado que o senhor PHA, mas não menos contundente. É autor de um belo dossiê sobre o PIG e os seus métodos. Um tratado sobre as várias possibilidades de vida PIGana ao sul do rio Tietê.
Chafurdando sempre próximo ao nível mais baixo do chão, o PIG esbraVeja sempre que contrariado em seus interesses. Os PIGs estão sempre em alerta a proteger a mão que os alimenta e financia seus ternos de grife. E, de tão afoitos e treinados que são seus chefes e donos, estarão sempre tranqüilos com relação a sua seara.
O PIG não é apenas um conceito, mas também um estilo de vida – ou style, como já foi dito. E nessa abstração alicerçam instituições que, geridas como privadas, ignoram que públicas são e como tal, devem satisfação ao público e ao Estado de direito que estão inseridas. Não apenas à privada.
Um fala, outro obedece e o povo se cala
A fina flor dos donos da mídia brasileira, que para alguns pode ser classificada como P.I.G., reuniu-se recentemente em um style ‘Ilha de Caras’ em um hotel de luxo em São Paulo em um Fórum em cujo tema – pasmem – estava inserida na mesma frase a palavra Democracia e Liberdade. Fico imaginando a dificuldade de alguns dos convivas em pronunciar essas palavras e ainda criar uma oração com ela.
No velho estilo (não style) ‘marcha com Deus, pela Pátria e liberdade’, mais uma vez os senhores e seus funcionários, em clima de confraternização, destilaram seus tremores a um perigo próximo e eminente – o comunismo – que se avizinha no horizonte na figura da candidatura Dilma Rousseff, do PT. Uma ameaça ao nosso (deles) estilo de vida e às suas (deles, novamente) liberdades de se expressar como bem entender. O engraçado é que no tempo da ditadura esse povo não saía às ruas em nome de liberdade ou democracia, talvez por que para eles a ditadura tenha sido ditabranda.
Agora, reunidos no subsolo, patrões e empregados da grande mídia unem-se em uma causa comum, comprovando que essa história de ‘luta de classes’ é coisa de comunista. E que democracia mesmo é a deles – onde um só fala, o outro obedece e o povo se cala.
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Psicólogo, Curitiba, PR