Os jornais retratavam, na manhã de terça-feira (30/9), a expectativa geral sobre a pesquisa de intenção de voto que poderia indicar a consolidação da tendência observada há três semanas: o quadro mostra a sólida ascensão da candidatura da presidente Dilma Rousseff e o refluxo da onda Marina Silva.
Os números podem indicar uma definição da disputa no primeiro turno, a depender da escolha dos eleitores que estão deixando a candidata do PSB. Aécio Neves, do PSDB, espera ansiosamente um sinal dos oráculos.
Os analistas da imprensa insistem em afirmar que a mudança de rumo do eleitorado, que até o final de agosto parecia conduzir a ex-ministra do Meio Ambiente a uma posição privilegiada no segundo turno, é resultado dos ataques que ela vem sofrendo por conta de contradições exploradas pelos adversários. Mas essa não é a verdade completa: no núcleo de campanha do Partido dos Trabalhadores, e mesmo entre destacados militantes do PSDB de São Paulo, existe a convicção de que a recuperação da candidatura petista se deve às informações sobre as conquistas sociais da última década que têm sido veiculadas na propaganda de Dilma Rousseff no rádio e na televisão.
Resumindo, pode-se afirmar que os ataques a Marina Silva, desfechados tanto pela campanha do PT quanto pelo candidato do PSDB Aécio Neves, quebram a mística que cercava a ex-ministra desde a morte de seu parceiro de chapa, o ex-governador Eduardo Campos. Mas o que tem revertido uma grande proporção de votos em favor da reeleição da presidente da República é a divulgação intensa de indicadores reais sobre as condições de vida da maioria da população, que a imprensa esconde do público.
Entre conselheiros da ex-ministra do Meio Ambiente, ocorre nos últimos dias certa urgência em recuperar sua imagem como militante da causa da sustentabilidade, como recurso para estancar a perda de votos entre os eleitores engajados em movimentos sociais, principalmente os jovens. Oficialmente, porém, seu comitê de campanha insiste em reafirmar que a nova Marina Silva “é a maior aliada do agronegócio brasileiro”, como declarou o biólogo João Paulo Capobianco, um de seus conselheiros mais próximos, durante evento organizado pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Os que ladram e os que mordem
Há muito a ser dito sobre as idas e vindas da candidata do PSB e sobre o espaço que sua trajetória de indefinições abre para os concorrentes. Os jornais registram, por exemplo, que o senador Aécio Neves criou para esta semana decisiva uma agenda que começa com a exploração do tema da sustentabilidade, seguindo-se a questão da gestão pública e políticas sociais, deixando a economia para o último dia da propaganda eleitoral no rádio e na TV.
O candidato predileto das grandes empresas de comunicação não precisa de muito esforço para divulgar seus projetos, porque a mídia tradicional atua desde sempre como uma extensão de seu comitê de campanha.
Pode-se afirmar exatamente o contrário da candidatura de Dilma Rousseff: ela só conseguiu reverter o quadro porque conta com mais tempo no horário da propaganda eleitoral e tem podido compensar o boicote que lhe faz a imprensa. Com mais informação, aumenta a aprovação ao seu governo.
Em 1932, o jornalista e filósofo francês Paul Nizan publicou o ensaio intitulado “Os cães de guarda”, para denunciar os intelectuais que, no começo do século 20, atuavam como guardiães do status quo. Em 2007, o jornalista Serge Halimi, atuando no jornal francês Le Monde Diplomatique, denunciou a atuação da imprensa como força subversiva a serviço de si mesma e do poder econômico, no livro intitulado Os novos cães de guarda. O livro de Halimi foi resenhado por Norma Couri neste Observatório (ver aqui) e inspirou um polêmico documentário produzido em 2012.
O quadro eleitoral mudou porque a propaganda na televisão e no rádio quebra a hegemonia da mídia tradicional e reduz a desigualdade imposta pela imprensa à candidatura de Dilma Rousseff.
Com as “exceções de praxe”, a imprensa brasileira é o quartel-general dos cães de guarda, que se apresentam como um contrapoder independente e pluralista mas atuam invariavelmente como evangelistas da doutrina segundo a qual a sociedade deve ser regida pelo mercado. Por exemplo, na edição de terça-feira (30), a Folha de S.Paulo alerta, em manchete: “Com Dilma em alta, Bolsa tem a maior queda em 3 anos”.
Alguns se dedicam a ladrar, mas há os que mordem.