O tsunami que assombrou a Ásia em 2004 respingou no mundo inteiro, sobretudo no Brasil, pois aquelas semanas revelariam o total despreparo dos jornalistas brasileiros para lidar com uma informação que eles não receberam nos bancos acadêmicos.
Primeiro, ninguém sabia ao certo o que era um tsunami, de modo que as primeiras notícias falavam em maremoto, terremoto e sabe lá mais qual moto. No dia seguinte era necessário explicar a origem do fenômeno – e lá se foram os gloriosos estagiários, travestidos de repórter, consultar físicos, geólogos e pais de santo.
Naturalmente, quem não tem o menor conhecimento de um assunto não pode ser salvo nem pelo melhor profissional, logo o que se viu nos dias seguintes era um sem-número de informações desencontradas e contraditórias. Depois, a celeuma era em torno do número de vítimas – que oscilavam mais do que a Bolsa de Valores num único dia.
O buracão da Linha Amarela
Até que alguém se deu conta de que era necessário se aprofundar no assunto e finalmente se dignou a… pesquisar! Então começaram a surgir – quase duas semanas depois! – imensas matérias, recheadas de infográficos e explicações técnicas de sumidades na área – e não mais de franco-atiradores de plantão, loucos para terem seu nome citado nos jornais.
Este é um problema latente da imprensa: quando acontece um fato extraordinário que ultrapassa o conhecimento do repórter, parece que ele sobe em um banco e grita: ‘Tem algum médico/físico/engenheiro/economista/advogado por aqui?…’ Daí, o primeiro que levanta a mão é entrevistado incontinenti, não importando se o sujeito se formou ontem ou se tem pouquíssima experiência com o fato em questão.
Agora, a bola da vez é o buracão da Linha Amarela do metrô de São Paulo. Ninguém acompanhou a escavação dos túneis, nem procurou fazer um levantamento antecipado de como seria realizada a obra, nem tentou descobrir as soluções de engenharia que seriam empregadas, nem pesquisou sobre o impacto ambiental do projeto ou sobre o tipo de terreno que estava sendo escavado. Tudo isso era informação. Tudo isso foi subtraído dos leitores/ouvintes/telespectadores, os quais, por sua vez, são parte da sociedade civil para qual a imprensa presta serviço.
Falta de conhecimento mínimo
Como houve uma tragédia, subitamente todos os aspectos ignorados no início e no transcurso da obra passaram a interessar ao jornalismo. Agora todos querem explicar melhor e mais rápido do que a concorrência o que, afinal de contas, aconteceu ali naquele local onde até a semana retrasada não havia uma câmera sequer e muito menos o interesse da imprensa.
O que se viu em São Paulo foi o velho circo de sempre: câmeras escondidas tentando flagrar o resgate dos corpos, closes no desespero dos familiares, helicópteros pairando no ar, boletins ao vivo e dezenas de informações desencontradas ou opiniões estapafúrdias – tudo isso para ocultar da população a falta de conhecimento mínimo dos agentes do jornalismo sobre a obra, sobre o terreno e sobre… engenharia.
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Diagramador e arte finalista, Porto Alegre, RS