Agora começou a segunda rodada de debates que levará um dos dois candidatos à presidência da República. Antes fosse. Não há debate, não há análises profundas, o que se vê é o jogo tolo das acusações e números. Muitos números que, no final das contas, não dizem absolutamente nada ao homem comum dos sertões nordestinos ou das florestas do Norte. De um lado, o diálogo raso. De outro, os bilhões e trilhões que são puro subjetivismo para a maior parte da população do país. Enquanto isso, a mídia boia.
De uma hora para outra, tem-se a impressão de que o jogo mudou. ‘Nunca na história deste país’, como diria o presidente Lula, foi tão importante discutir temas como aborto e preservação do meio ambiente. Isso, sim, é um ganho. Ao contrário do que parte da imprensa quer plantar, o brasileiro não vê a questão do aborto como definida e simples. E as urnas deram uma prova espantosa para muitos políticos: quem defende com serenidade e maquiagem de politicamente correto a tal da ‘interrupção da gravidez’ (eufemismo), precisa perceber que a população quer discutir o tema. Mas quer fazê-lo de verdade, com seriedade.
No caso da preservação do meio ambiente, o caso é assim: todos defendem, mas poucos levam a sério o tema. Agora, José Serra se diz historicamente preocupado com essa questão, enquanto o PT tenta atrair Marina Silva mais uma vez para o seu lado, defendendo que nunca se fez tanto nesta área. Repito: enquanto isso, a mídia boia.
A busca pelo bem comum
Os jornais estão abarrotados de aspas, discursos, troca de farpas. Cada um que se mostre mais fiel à vida e às florestas. Mas não é função da imprensa somente repetir o que se diz, e sim, ir atrás de provas que atestem os dizeres. Se realmente a mídia está tão preocupada com esse debate, por que não convoca os dois candidatos a prestarem contas sobre os temas referidos? Mas, atenção: não basta que digam, é preciso que provem e que respondam a perguntas muitas vezes duras, que fogem do infantil maniqueísmo ‘a favor ou contra’.
A imprensa não é o proclamado ‘Quarto Poder’, mas tem o poder de fortalecer a democracia. Não pode fazer tudo, mas deve aprofundar as questões, incentivar a ‘lógica do melhor argumento’ porque é através do debate de ideias e do compromisso em pô-las em prática que o bem comum se constrói e, queiram ou não queiram, o jornalismo é esta busca pelo bem comum.
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Jornalista, Recife, PE