É fácil cobrir eleições, sobretudo eleições com forte conotação retórica e altas doses de simbolismo, como foi a disputa Obama vs. McCain.
Mais complicado é acompanhar a intensa movimentação política iniciada no day after e se estenderá até 20 de janeiro, quando os eleitos tomarão posse.
O acompanhamento dos primeiros passos de Barack Obama não pode restringir-se apenas ao que é publicado nos EUA. Sua eleição transcorreu num grande palanque internacional e suas primeiras opções bem como seu governo vão desenvolver-se num cenário geopolítico cada vez mais amplo. Em termos práticos, isso significa que além de acompanhar o que deu no New York Times, será preciso verificar o que deu em outros jornais globais.
No sábado (8/11), El País publicou na primeira página a notícia de que Obama incluiu inesperadamente (e por influência do presidente francês Nicolas Sarkozy) o primeiro-ministro espanhol, José Luís Rodríguez Zapatero, no restrito rol de governantes – apenas dez – a quem telefonou para agradecer as mensagens de felicitações.
Falaram 10 minutos na noite de sexta-feira sobre a crise financeira, mudanças climáticas, reaproximação EUA-Espanha e… América Latina.
Na segunda-feira (10/11), o mesmo El País (que sempre esteve próximo dos governos social-democratas espanhóis) menciona uma possível atenuação das sanções contra Cuba implementadas por Bush, antes mesmo de negociações diretas com o governo de Raúl Castro.
Regime de trabalho
Nossas redações funcionam em regime de plantão nos fins de semana, cobrem o essencial, os comentaristas escrevem na sexta os artigos que serão publicados até segunda-feira. Ninguém se deu ao trabalho de examinar o significado do telefonema de Obama para Zapatero, a inclusão da América Latina na pauta da conversa com um chefe de governo europeu e, sobretudo, a ausência de um sul-americano na primeira rodada de conversas com as lideranças internacionais (o México não conta, é associado dos EUA no tratado da NAFTA, junto com o Canadá).
É evidente que o Itamaraty anotou o fato, mas os políticos e a sociedade não tomaram conhecimento deste lance. [Na edição de segunda-feira da Folha de S.Paulo (10/11, pág. A-9), o expert Newton Carlos examinou a presença de Cuba na pauta de Obama com base em artigo do Washington Post publicado ainda durante a campanha eleitoral.]
Para acompanhar e explicar as mudanças que fatalmente ocorrerão no cenário internacional nossa imprensa precisará remover as rígidas rotinas que dominam seu funcionamento atual. Os jornais, sobretudo, precisarão voltar a ser diários que funcionem plenamente todos os dias.
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A segunda edição do caderno NYTimes–Folha (também criticada pelo ouvidor Carlos Eduardo Lins da Silva) saiu na segunda-feira (10/11) enfiado no suplemento infanto-juvenil FolhaTeen [ver ‘O caderno do NYTimes, parabéns e pêsames‘].