Duas das mais poderosas companhias de cartão de crédito do mundo tiveram seus sites na internet derrubados esta semana – e os responsáveis seriam pessoas que nunca se viram na vida, unidas apenas por ‘um pouco de conhecimento técnico e um desejo de vingar o WikiLeaks’.
A explicação é de um dos membros do grupo ‘Anonymous’, que concordou em dar uma entrevista por email ao UOL Notícias na noite desta quinta-feira (09/12), após mais uma ação contra a companhia financeira PayPal, na onda da chamada ‘Operação payback’, que já derrubou sites da Visa e da Mastercard por terem restringido os recursos de ação do WikiLeaks.
‘Somos um grande grupo com quase nenhuma conexão uns com os outros na vida real. Alguns de nós somos advogados, alguns trabalham no McDonalds – há uma enorme variedade. A única coisa que temos em comum é um pouco de conhecimento técnico e um desejo de vingar o WikiLeaks’, declarou o ativista, destacando seu apoio ao mega vazamento de documentos confidenciais coordenado pelo australiano Julian Assange.
A principal – e, até agora, a única – ‘arma’ do grupo é o chamado DDoS, acrônimo em inglês para Distributed Denial of Service, que se baseia em uma tentativa de tornar os recursos de um sistema indisponíveis através de sobrecarga de requisições de acesso. Justamente por isso, eles são enfáticos para negar a alcunha hackers.
‘Hackear, em geral envolve quebrar sistemas ou roubar informações – e nós não estamos fazendo isso até agora’, argumenta. ‘Estamos derrubando os sites, não hackeando.’ A fonte, que não quer divulgar seu nome real, também fez questão de destacar para a reportagem antes da entrevista que ‘não há representantes oficiais do Anonymous’.
Acompanhe abaixo a conversa completa.
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‘Queremos derrubar sites, não roubar informação’
UOL Notícias – Em primeiro lugar, como você define o grupo ‘Anonymous’ e suas ações? Qual sua conexão com o grupo?
Anonymous – Bem, o grupo é só isso mesmo: Anonymous. Somos um grande grupo com quase nenhuma conexão uns com os outros na vida real. Alguns de nós somos advogados, alguns trabalham no McDonalds – há uma enorme variedade. A única coisa que temos em comum é um pouco de conhecimento técnico e um desejo de vingar o WikiLeaks. Minha conexão com o grupo? Eu não tenho um papel específico – no Anonymous, ninguém tem. Eu só participo.
Sabemos que não há uma liderança. Então como vocês operam?
Anonymous – Sim, não há liderança. Nós colaboramos principalmente no IRC (internet relay chat). Nos momentos de decisão, a maioria vence.
DDoS é uma das suas táticas. Por que essa ação? Há outras?
Anonymous – Bem, DDoS nos permite saturar os sites e colocá-los offline temporariamente. Não temos realmente outras ‘táticas’, não. Tudo o que estamos interessados em fazer nesse momento é derrubar os sites, não roubar informação ou hackear mesmo.
‘Hackear envolve quebrar sistemas e nós não estamos fazendo isso’
Como vocês escolhem seus alvos?
Anonymous – Escolhemos alvos com base em como eles tentaram limitar o WikiLeaks e seus recursos. Por exemplo, miramos o PayPal porque ele congelou as doações ao WikiLeaks.
Por que mirar nos inimigos do WikiLeaks neste momento? Qual a ligação de vocês com Julian Assange?
Anonymous – Queremos nos vingar pelo WikiLeaks (e Assange, neste contexto). Nenhum de nós tem qualquer relação com Assange, não o conheço e nunca vou conhecer. Eu apenas aprecio o que ele está fazendo e dou apoio.
Vocês dizem que é incorreto usar o termo hacker. Por quê?
Anonymous – Sim, tecnicamente não somos hackers, apesar de as pessoas estarem se referindo a nós exatamente assim. Hackear, em geral, envolve quebrar sistemas ou roubar informações – e nós não estamos fazendo isso até agora. As companhias de cartão de crédito confirmaram que nenhuma informação de nenhuma conta foi vazada até agora. Estamos derrubando os sites, não hackeando.
‘O PayPal continua como alvo para nós’
Há brasileiros envolvidos na ‘Operação payback’?
Anonymous – Tenho certeza que sim.
O grupo considera os ataques recentes como bem sucedidos?
Anonymous – Sim, nós consideramos que os ataques foram sucessos. Derrubamos os sites da Mastercard e da Visa de tal forma que mesmo as transações nas lojas não funcionaram – o que provavelmente tirou da Mastercard e da Visa uma receita significativa, já que estamos na temporada de compras de Natal. E diminuímos muito a velocidade do PayPal nos EUA, e mesmo derrubamos seu site em alguns países. PayPal desde então liberou o dinheiro da conta do WikiLeaks que tinha congelado, contudo não está aceitando novas doações, e por isso continua como alvo para nós.