Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Partidarização e blindagem política

A partidarização dos meios de comunicação é extremamente forte no estado de Minas Gerais. Nunca vi este fato ser retratado ou criticado em um meio de comunicação de divulgação nacional (sobretudo local), incluindo o OI. Cabe destacar o proselitismo do mais popular jornal que, acredito eu, seja o de maior circulação no estado (Estado de Minas) e que, segundo uma lenda local, abriga uma irmã do nosso governador em sua equipe. Cabe frisar ainda, que este jornal faz parte do grupo de comunicação que retransmite uma das maiores redes de TV nacional.

Na sexta-feira (28/5), por exemplo, a reportagem de capa dizia: ‘De volta ao Brasil, ex-governador nega mais uma vez que será candidato a vice-presidente na chapa do paulista José Serra e reafirma que o seu caminho é disputar uma cadeira no Senado’. Em seguida, o subtítulo dado pelo próprio jornal da ‘Análise da notícia’:

‘A fala de Aécio põe fim a uma novela cujo desfecho já era conhecido havia meses e anunciado pelo próprio tucano em inúmeras entrevistas. Mostra, antes de mais nada, coerência do ex-governador de Minas. Primeiro, porque ele sempre se posicionou contra a montagem de uma chapa pura para a corrida pela Presidência. Segundo, porque desde o princípio Aécio afirmou que se não fosse o candidato a presidente concorreria a uma cadeira no Senado, disputa em que acredita que poderá ser mais útil ao partido, ajudando na campanha de Anastasia ao Palácio da Liberdade e na do próprio Serra’ (Renato Scapolatempore).

A opinião do jornal

Sem contar o editorial publicado na capa da edição de quarta-feira (03/03/2010), reproduzido abaixo:

‘Editorial

Minas a reboque, não! Indignação. É comesse sentimento que os mineiros repelem a arrogância de lideranças políticas que, temerosas do fracasso a que foram levados por seus próprios erros de avaliação, pretendem dispor do sucesso e do reconhecimento nacional construído pelo governador Aécio Neves. Pior. Fazem parecer obrigação do líder mineiro, aquém há pouco negaram espaço e voz, cumprir papel secundário, apenas para injetar ânimo e simpatia à chapa que insistem ser liderada pelo governador de São Paulo, José Serra, competente e líder das pesquisas de intenção de votos até então. Atarantados com o crescimento da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, percebem agora os comandantes do PSDB, maior partido de oposição, pelo menos dois erros que a experiência dos mineiros pretendeu evitar. Deveriam ter mantido acesa, embora educada e democrática, a disputa interna, como proposto por Aécio. Já que essa estratégia foi rejeitada, que pelo menos colocassem na rua a candidatura de Serra e dessem a ela capacidade de aglutinar outras forças políticas, como fez o Palácio do Planalto com a sua escolhida, muito antes de o PT confirmar a opção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na política, a hesitação cobra caro, mais ainda numa disputa que promete ser das mais difíceis. Não há como negar que a postura vacilante do próprio candidato, até hoje não lançado, de atrair aliados tem adubado a ascensão da pouco conhecida candidata oficial. O que é inaceitável é que o comando tucano e outras lideranças dão posição queiram pagar esse preço com o sacrifício da trajetória de Aécio Neves. Assim como não será justo tributar-lhe culpa em caso de derrota de uma chapa em que terá sido apenas vice, também incomoda os mineiros uma pergunta à arrogância: se o mais bem avaliado entre os governadores da última safra de gestores públicos é capaz de vitaminar uma chapa insossa e em queda livre, por que Aécio não é o candidato a presidente? Perplexos ante mais essa demonstração de arrogância que esconde amadorismo e inabilidade, os mineiros estão, porém, seguros de que o governador – político de alta linhagem de Minas – vai rejeitar papel subalterno que lhe oferecem. Ele sabe que, a reboque das composições que a mantiveram fora do poder central nos últimos 18 anos, Minas desta vez precisa dizer não.’

Só fotografias retocadas

O interessante é que ao final da nota ela passa de um editorial, representando a opinião do jornal, para falar por todo o povo mineiro. O que é bastante ridículo.

Quem perde é o leitor, pois o jornal de maior circulação estadual, e que poderia funcionar como uma eficiente ferramenta para a nossa avaliação real do governo Aécio Neves, não publica nada de negativo em relação ao mesmo.

Não quero discutir a competência política de Aécio. No entanto, em nossa visão, a sua gestão é conduzida de forma impecável, uma vez que, se depender da imprensa, só veremos fotografias retocadas do seu governo.

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Engenheiro geólogo