Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Passou em branco?

Concordo que há uma cornucópia de assuntos no mercado para serem noticiados e, certamente, é difícil escolher quais podem ser notícia e que destaque deve ser dado a algum. Mas em pouquíssimos lugares apareceu uma nota, quase burocrática, que a mim parece que ao assunto deveria ser dada atenção muito maior.

Estou me referindo ao fato de que o presidente do PT, Ricardo Berzoini, esteve em Damasco, assinando uma espécie de protocolo de ações conjuntas com o partido Ba´ath. Talvez as coisas pudessem ficar por aí, não fosse o fato de o presidente da República ser filiado e estrela maior – mesmo quando não quer – do próprio PT, o que talvez mostre algo mais da agenda internacional do atual governo federal.

O partido Ba´ath simplesmente é a base de apoio do ditador sírio Bashed Assad, que proibiu a oposição (se é que existe de verdade) de concorrer no recente pleito presidencial daquele país do Oriente Médio e, por conseqüência, foi reeleito com mais de 97% dos votos… Também não custa lembrar que Saddam Hussein tinha como base partidária o mesmo Ba´ath, só que no Iraque.

‘Pseudo-companheiros’

Deixando de lado a ignomínia da política externa norte-americana no Iraque e as complicações de George W. Bush, o que é que o PT pode ter em comum para manter um vínculo formal com um partido de sabidos cruéis ditadores?

A política externa brasileira do governo Lula de seu primeiro mandato até agora privilegiou países árabes: é uma opção, ninguém exige do mesmo que se alie incondicionalmente a Israel, e certamente os interesses comerciais são bilaterais e a princípio isso pode beneficiar o Brasil. Mas essa aproximação com a Liga Árabe – e mesmo a reunião de representantes desses países aqui – por certo ficou abalada com toda a onda feita em cima do etanol brasileiro, concorrente direto do petróleo de lá, única fonte de renda dos países árabes e ainda por cima finita.

Além desse estranho encontro PT-Ba´ath, há a ‘amizade’ Lula-Chávez. Embora se torne cada vez mais claro que há a disputa pelo poder regional na América Latina – e que Hugo Chávez parece um louco deslumbrado mas, na verdade, faz o jogo das massas a seu favor, tolhendo liberdades civis consagradas e militarizando a Venezuela para um pseudo-paranóico teatro de guerra EUA contra seu país ‘assimétrico’, comprando milhares de AK-47 e caças russos – o mais provável é que Chávez utilize esse seu poder regional, aliado a quanto restar de seu Tesouro nacional, assim como os petrodólares, contra vizinhos da América Latina. Costuma-se citar a Guiana, a Guatemala e a Colômbia, mas o também pseudo-companheiro Evo Morales tornou a Bolívia, a meu modo de ver, no primeiro país-satélite pós-Guerra Fria, e da Venezuela. Os bolivianos crêem até hoje que o Brasil lhes roubou o Acre, quando houve uma compra, fartamente documentada, e esses negócios entre nações eram comuns naquela época do barão do Rio Branco.Os próprios EUA não compraram o Alaska, por exemplo ?E se Chávez resolver ‘devolver’ o Acre de presente à Bolívia?

Uma revisita ao assunto

Não que Chávez pertença ou mantenha relações diretas com o partido Ba´ath, mas é muito interessante vê-lo a todo instante com sua versão iraniana, Mahammoud Ahaminejead, aquele que quer destruir Israel, judeus e negar o Holocausto. E há foto publicada da imprensa nacional de Lula apertando as mãos do presidente do Irã.

Não falamos aqui propriamente de economia ou ideologia, mas a notícia de Berzoini na Síria deveria ter destaque maior, pois Chávez já declarou formalmente ‘que nunca nos afastaremos do Irã e da Síria’. A pergunta, então, deveria ser: o relacionamento com esse partido, e com essa espécie de líderes, não seria uma trilha para o totalitarismo,uma volta às origens stalinistas de alguns dos membros do PT? E isso influencia ou não a política externa brasileira ou, pior ainda, a interna, com relação à comunidade israelita?

Pode ser argumentado que isso é mania de perseguição, que judeus sempre se colocam nessas situações a qualquer sinal de alarme. Mas isso não é motivo para preocupação para brasileiros, judeus ou não? E mesmo para a esquerda não totalitária? Uma revisita ao assunto PT-Ba´ath seria muito bem vinda, conduzida por profissionais da imprensa competentes.

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Médico, São Paulo, SP