Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Verlaine

‘As manchetes do O POVO – e de outros jornais desta cidade – na última semana são enfáticas no chamamento à ‘lei e à ordem’. A Coluna Política, assinada pelo jornalista Fábio Campos, tem tido papel de destaque em todo esse processo. O clima, já pesado com a invasão do Campus do Pici, da Universidade Federal do Ceará, e com a paralisação dos trabalhadores da construção civil, agrava-se com a greve dos motoristas de ônibus urbanos.

Agora, mal termina a paralisação dos rodoviários, Fortaleza se depara com outra greve: a dos agentes de saúde que acontece em meio a uma epidemia de dengue. Novas tensões estão previstas.

Acho, no entanto, que o assunto foi conduzido pelo jornal de maneira equivocada. Como se ação policial resolvesse todos os problemas. Fábio Campos recebeu mensagens de solidariedade de autoridades universitárias, professores, estudantes e leitores de uma maneira geral. Divulgo aqui mais uma. O leitor Raimundo Costa (rrdocosta@terrra.com.br ) manda-me este e-mail: ‘Concordo plenamente com Fábio Campos e acho que esta invasão é caso de policia sim. Espanta-me alguns acharem que a Universidade deveria negociar, mas negociar o quê? Quem arcará com o prejuízo das aulas paralisadas? Quem arcará com o reparo do muro derrubado? A sociedade através da UFC?’.

‘IMPÉRIO DA LEI’

Mas existem também vozes discordantes. Do leitor, professor e historiador (mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará), Airton Farias:

‘Nos últimos dias, setores conservadores cearenses, na velha tática de marginalizar os movimentos sociais, bradaram nos meios de comunicação a necessidade de se cumprir o ‘império da lei’ e agir com ‘rigor’ contra os ‘invasores’ de um terreno da UFC’.

Continua Farias: ‘Só quem é muito ingênuo ou desconhece uma mobilização social não percebe que a invasão do terreno foi um modo de chamar a atenção da mídia para a necessidade de moradia daquelas pessoas. Elas têm plena convicção que não podem ficar ali. Basta falar com qualquer uma delas — mas num preconceito de classe terrível, ninguém se preocupou em mostrar quem são, logo tachando-as de ‘bandidos e marginais’.

Diz também: ‘Mas vamos cumprir o tal ‘império da lei’. Os ‘invasores’ têm que sair, de fato. Mas espero que os nossos ‘companheiros da direita’ (sic) não esqueçam de escrever artigos com a mesma ênfase sobre outras irregularidades. Nós, ‘intelectuais de esquerda, contamos com tal apoio´’.

Mais adiante, afirma: ‘Para começar, vamos exigir que os patrões não burlem as leis trabalhistas, como acontece normalmente no Ceará (basta ver a quantidade de processos na Justiça do Trabalho!). Vamos fazer uma campanha para que as áreas da orla marítima sejam desocupadas (êpa, não há hotéis luxuosos e parques aquáticos na orla ??). Comecemos a exigir que todos os grandes sonegadores de impostos sejam intimados a cumprir suas obrigações com o fisco (opa, mas como é que os caras vão aparecer nas colunas sociais dos jornais bebendo uísque?).

Outro trecho da mensagem: ‘Desejamos que se apure como políticos são donos de emissoras ou investem em jornais, usando-os para fins eleitorais (ué, cadê a Justiça Eleitoral ?). Vamos defender que se apure como o governador vende a empresa de telefonia a seu irmão. Vamos apurar a ‘rachadinha’ (ou seja, o funcionário de um gabinete é obrigado a entregar parte do salário) que as nobres autoridades cearenses praticam. Vamos exigir que se apure e se puna os responsáveis pela falência e privatização do BEC (é o novo!).

Conclui Farias: Vamos nos empenhar e conclamar a sociedade para apurar os contratos obscuros entre a estatal de água e saneamento e uma famosa empresa de refrigerantes. Enfim, temos certeza que agora, com apoio dos nossos colegas conservadores, o ‘império da lei´ prevalecerá no Brasil, e que todos seremos mais felizes e ‘desenvolvidos’.

O membro do Conselho dos Leitores do O POVO, Hiran Nogueira, opina: ‘Desde a primeira abordagem do episódio (30/04), o que vejo em geral é a Coluna (Política) construir um discurso que clama com insistência pela Polícia, questiona a omissão do Estado e generaliza os fatos. E com isso o problema da invasão da UFC não é aprofundado com qualidade para que o leitor possa fazer seu próprio juízo de valor’.

NOTA DO DCE

Estudante universitário, que pede para não ser identificado, estranha porque na nota ‘Até o DCE protesta. Nossos políticos silenciam’, da Coluna Política (6/5, página 22), o jornalista Fábio Campos omite o final da nota do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFC que diz o seguinte: ‘Vale ressaltar que não concordamos com qualquer ação que criminalize os movimentos sociais, tanto por parte da Administração Superior ou do Estado, e que todos os canais de diálogo estejam abertos, garantindo que a negociação para a desocupação seja pacífica’.

‘DEDURISMO’

O médico psiquiatra e colaborador do O POVO, Antonio Mourão Cavalcante, manda-nos a seguinte mensagem: ‘Achei extremamente estranho que o jornal esteja concitando à deduragem: ‘Você conhece algum caso de uso de drogas na escola? Envie seu relato para O POVO.com.br. Os nomes dos alunos e dos estabelecimentos de ensino não serão divulgados.’ (O POVO, 06/5)

Meu Deus, que marmota é essa? Quem garante esse sigilo? E no que vai ajudar conhecer fatos isolados e anônimos? Péssimo jornalismo. Aliás, anti-ético. Perigoso. Isso não pode acontecer!… Me recuso a acreditar’.

Até domingo.’