Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Pensamento único, o retorno

O PT quer um debate qualificado sobre o conservadorismo ‘incrustado em setores da sociedade e dos meios de comunicação’. A resolução adotada pelo Diretório Nacional na sexta- feira (19/11), quando a presidente eleita já havia se retirado do recinto, recomenda ainda que as discussões ‘sejam realizadas em um ambiente que respeite a liberdade de imprensa e de expressão’.


Estamos avançando, parabéns: debater é democrático e, além disso, um partido, mesmo vitorioso, precisa ficar de olho no futuro e preocupar-se com o avanço das idéias contrárias. Mas este partido não pode ignorar o número de eleitores que votou contra ele nas recentes eleições nem o fato de que esses eleitores são os que lêem jornais, revistas e conseguem contextualizar o noticiário cotidiano transmitido pelo rádio e a TV.


Risco presente


A grande verdade é que a sociedade brasileira sempre foi conservadora, jamais conseguiu ser verdadeiramente progressista, tanto assim que aceitou uma ditadura ao longo de 21 anos engabelada pela miragem do ‘milagre econômico’. E, para eleger Lula em 2002, o PT precisou escolher como candidato a vice um empresário essencialmente conservador.


A mídia oferece ao seu público aquilo que atende aos interesses de ambos. Impedi-la de cumprir a sua parte neste contrato seria uma violência. O ideal seria que ao lado do Bolsa-Família, o governo desenvolvesse um mutirão nacional pela alfabetização e pelo incremento do hábito de leitura de modo que dentro de alguns anos surja naturalmente um mercado para uma imprensa não-conservadora, popular – embora seja grande o risco de que esta nova imprensa absorva o mesmo e velho conservadorismo pequeno-burguês incrustado na sociedade.


O que surpreende mesmo nesta proposta do PT é a sua opção pelo ‘pensamento único’, o mesmo que o partido combateu com tanto fervor nos anos 1990.