Silenciados os 190 milhões de técnicos de futebol, hora de convocar psicanalistas, psiquiatras, antropólogos e filósofos para devassar as fragilidades da alma humana nos momentos supremos.
Culpadas pelo fiasco no gramado não foram as obsessões, esquemas táticos ou fantasias guerreiras engendradas pelo técnico Dunga. Não foram os ‘laranjas’ os responsáveis pelo retorno prematuro da seleção, os holandeses jogaram como sempre – efetivamente –; quem fez as malas da seleção brasileira foi um coquetel altamente corrosivo que atende pelo nome ‘fogo de palha’, composto de arrogância e negligência, egocentrismo e descaso.
O tal ‘grupo’ que vestiu a camisa azul jogou sem levar em conta que havia outros onze em campo igualmente dotados de vontades. Minimizar adversários é o primeiro passo para entregar-lhes os louros. Um time de futebol (ou de políticos), de empresários (ou tecnocratas), militares (ou civis), artistas (ou cientistas) que se exibe com tanta competência na primeira parte de um confronto não pode desnortear-se e desfibrar-se com tanta facilidade quando o adversário retorna determinado.
Recurso óbvio
Um gol acidental (como o do empate), não pode emascular uma equipe que até então se comportava com galhardia, a não ser que esta galhardia seja clonada e seu estofo, falso.
Impossível jogar de salto alto, os deuses que costumam observar as disputas abominam os triunfalistas, incapazes de perceber que ventos podem mudar de direção e a sorte, de lado. Toureiros longevos sempre souberam que na hora da verdade o touro extenuado pode levantar a cabeça e escapar da espada que o pegaria pela nuca.
O trágico mata-mata que dizimou os guerreiros da Brahma na África do Sul obriga às legiões de seguidores a confrontar-se com o único fantasma que devem temer em todas as competições: o quase-quase, filho dileto do oba-oba.
Pior do que amargar vexames é carregar a fama de insuficiente e secundário. Na sexta-feira (2/7) a maioria dos comentaristas de futebol despediu-se apontando para o calendário e o Mundial de 2014. Recurso óbvio, enganador. O próximo quadriênio será um desafio e não apenas em matéria de futebol. O país inteiro terá que engajar-se numa Copa de Capacitação que até o momento não foi assimilada e sequer visualizada.
Fim do calvário
Não se trata apenas de construir um novo estádio em São Paulo, tarefa relativamente fácil, e preparar as demais facilidades desportivas pelo país afora. Desafio maior, impalpável, deve estender-se além dos canteiros de obras e terá que ser encarado com pachorra, humildade e persistência ao longo de 1460 dias e noites para construir uma imagem nacional de seriedade, probidade, firmeza e convicção.
Pela lei das compensações esta penosa Copa deveria servir para alguma coisa. A melhor reparação seria o fim do calvário do auto-engano e do ‘já ganhou’.