Durou apenas um dia o julgamento do pesquisador chinês Zhao Yan, acusado de fraude e de revelar segredos de Estado, e não se chegou a um veredicto.Yan, que trabalhava para o jornal New York Times, estava em custódia há quase dois anos sem nunca ter se apresentado diante do juiz. Ele foi preso em Xangai, em setembro de 2004, mas foi acusado formalmente somente em dezembro de 2005. O caso havia sido encerrado em março pelas autoridades chinesas, sendo reaberto em abril.
Yan é acusado de repassar ao Times detalhes sobre a rivalidade entre o ex-líder do Partido Comunista Jiang Zemin e o atual presidente, Hu Jintao, em um artigo publicado em setembro de 2004. A matéria, que revelava a saída de Zemin da Comissão Militar Central alguns dias antes do fato, levou a uma investigação do Partido Comunista sobre vazamento de informações. Yan nega as acusações, assim como o Times nega que ele tenha repassado os dados confidenciais.
Um dos advogados do pesquisador, Mo Shaoping, afirmou antes do julgamento que iria contestar elementos-chave de evidências apresentadas contra seu cliente, assim como o movimento da acusação para encerrar o caso em março e restabelecer uma acusação quase idêntica um mês depois. Yan também é defendido por Guan Anping, ex-conselheiro legal da vice-primeira-ministra Wu Yi. Os advogados pediram que Joseph Kahn, chefe da sucursal do Times em Pequim e autor da matéria que levou à acusação, fosse apresentado como testemunha de defesa, mas o pedido foi negado pelo tribunal. Anping explicou que, pela lei, o tribunal pode deliberar por um mês antes de apresentar o veredicto final.
Sessão fechada
A sessão desta sexta-feira (16/6) em Pequim foi fechada para jornalistas, amigos e a família do pesquisador. Shaoping afirmou, após o julgamento, que um dos juízes alertou os presentes no tribunal de que, como se trata de um caso sobre segredos de Estado, não deve ser divulgado o que é discutido dentro dele.
Sob as leis chinesas, a definição de segredos de Estado pode ser muito ampla, cobrindo quase toda informação associada ao governo ou ao Partido Comunista. Jornalistas críticos ao governo são freqüentemente condenados a anos de prisão por revelar segredos de Estado. Se condenado, Yan pode ser sentenciado a dez anos de prisão. Informações de David Lague [International Herald Tribune, 14 e 16/6/06].