Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Pior do que está não fica

O Horário Eleitoral Gratuito, embora tenha sido criado em 65, no alvorecer da ditadura, é uma grande bolação, se considerarmos que abre oportunidades compatíveis com o peso dos partidos, a partir de suas representações parlamentares. É, portanto, extremamente democrático. Não conheço experiência parecida em outros países. Na maioria, o acesso ao rádio e à televisão é pago. Barack Obama usou a internet não para difundir seu programa de governo ou suas ideias em relação a temas momentosos, como a retirada das tropas do Afeganistão, mas para levantar dinheiro de doações que usou pra pagar a propaganda pelo rádio e pela televisão.

Mas o Horário Eleitoral Gratuito anda precisando de ajustes, porque do jeito que anda já deu o que tinha de dar. Em primeiro lugar, é fundamental que exista uma separação nítida entre os tempos de cada legenda ou coligação. Outro dia vi um ataque à candidata Dilma Rousseff e até hoje não sei se partiu da legenda que acabava de se apresentar ou da que entrou em seguida. Um saladão. Uma vinheta obrigatória de abertura e encerramento resolveria facilmente essa questão, separando um partido ou coligação de outro/a. Mais um problema: a punição imposta pela Justiça Eleitoral de retirar o tempo do acusador e repassá-lo ao acusado. Até o telespectador perceber que um candidato está dentro do tempo do outro a vaca já foi pro brejo e levou a compreensão junto. Mais lógico seria simplesmente acrescentar o tempo retirado do acusador ao tempo do acusado e tamos conversados.

Ideias que precisam ser aperfeiçoadas

No caso dos candidatos a cargos majoritários, o início da propaganda pelo rádio e pela TV praticamente inaugura a temporada de campanha eleitoral. Mas no caso dos proporcionais, não. O que acontece com eles é um ‘efeito liquidificador’, no qual todos os candidatos aparecem sem o chamado ‘tempo de fixação’. Mal se consegue ouvir em rápidos segundos a mensagem de um candidato e logo ela é substituída pela mensagem do seguinte. No final de um programa inteiro, raros são os telespectadores que conseguem repetir o conteúdo de um ou outro candidato proporcional. Um caos. E tudo isso pago com nosso dinheiro. Ou você ainda acredita que o horário é gratuito?

Não tenho proposta fechada para o problema dos proporcionais, embora venha discutindo isso há vários anos, nos debates de que participo. Como o número deles é muito grande, não se sabe o que poderia ser feito para que o uso do rádio e da televisão fosse mais efetivo e diferenciado. Num dos últimos debates de que participei sugeri o fim do empacotamento no programa eleitoral. Em lugar disso, seria feita a diluição de suas mensagens ao longo das programações, em ‘comerciais’ fechados de 20 a 30 segundos, formato que elimina o ‘efeito liquidificador’.

E quanto aos majoritários? Já que a grande acusação aos programas eleitorais é a de que os marqueteiros edulcoram os candidatos, com jingles e imagens envolventes, que tal fazê-los aparecer como efetivamente são? Isso poderia ser feito por meio de debates obrigatórios promovidos pela própria Justiça Eleitoral, exibidos em rede, durante o horário eleitoral.

São algumas ideias que precisam ser aperfeiçoadas. Se não servirem pra nada, que venham outras, a fim de melhorar a situação. Porque, como diria o filósofo Tiririca, pior do que está não fica.

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Jornalista, professor universitário e poeta