Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Por que se lê menos jornal

No domingo (11/7) terminou finalmente a Copa do Mundo de futebol, a qual consagrou a seleção espanhola campeã da competição. Infelizmente, a cobertura de alguma mídia deixou muito a desejar, e não foi só a televisão, como estamos acostumados a ver.


Excelente exemplo de desconsideração informativa foi o tratamento – a falta dele – do jornal O Estado de S.Paulo, que na sua edição de domingo ignorou olimpicamente a partida que disputaram as seleções do Uruguai e da Alemanha em sua luta por conquistar a terceira colocação na classificação da Copa. O jornal não apresentou a mínima informação sobre a partida.


Ignorar essa notícia não só é uma falta de respeito com os leitores que pagam – e muito – por um jornal, mas também uma omissão, tanto esportiva como política. A seleção do Uruguai, conforme diferentes analistas, foi uma equipe que surpreendeu, tendo reconquistado uma presença esportiva que há quarenta anos não tinha. Além disso, a Fifa selecionou o jogador uruguaio Diego Forlán como o melhor do torneio.


Ademais dos pontos relativos ao esporte, existem aspectos políticos e regionais que deveriam ser considerados. A seleção do Uruguai foi a única equipe da América Latina que avançou na competição internacional. E não só isso. A República Oriental do Uruguai é um país integrante do mesmo bloco econômico e político que o Brasil, o Mercosul. Mais uma vez, alguma mídia brasileira ‘esquece’ a qual continente pertence.


Pelo ralo


Nos últimos anos é notável a queda nas vendas de jornais impressos – no Brasil e no mundo. E muitos são os debates e análises que tentam achar a melhor forma de reverter esse quadro. As análises centram seu foco nas diferentes tecnologias multimídia online, mas, infelizmente, esquecem da importância de apontar a necessidade de aprimoramento dos conteúdos oferecidos pelos jornais.


No mundo tecnológico no qual vivemos atualmente, resulta totalmente injustificável que um jornal como o Estadão deixe de veicular matéria sobre um acontecimento que sucedeu 12 horas antes de o jornal estar nas ruas. Aliás, nas edições dos domingos os jornais, de um modo geral, caracterizam-se por publicar majoritariamente matérias frias, atemporais.


No mesmo dia 11 de julho, o Estadão publicou a matéria ‘O fim da era da internet gratuita‘, na qual o autor Gregory M. Lamb coloca algumas das experiências de jornais internacionais no sentido de cobrar pelos conteúdos que são disponibilizados online. Nada se falou sobre a qualidade dos conteúdos. Independentemente de eles serem pagos ou gratuitos, online ou impressos, as empresas deveriam lembrar que existe um mundo ‘além dos envases’, estes que cada dia podemos descartar mais rapidamente.


Pela qualidade dos jornais editados na Bahia, há bastante tempo desisti de jogar meu dinheiro pelo ralo e passei a comprar os jornais da região Sudeste. Pelo visto, talvez tenha que procurar como fonte de leitura informativa os jornais internacionais.

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Químico, doutor em Fisiologia e pós-doutor em Neurociência; diretor da Agenciencia – Comunicación Científica