É preciso ultrapassar o campo da sociologia e o da ciência política para compreender o que acontece neste momento no Oriente Médio, pois há evidência de orquestração nesses movimentos ditos revolucionários. Não é sábio acreditar que, de uma hora para outra, os egípcios se deram conta que Hosni Mubarak estava há três décadas no poder e que deveria cair para ser implantada a tão sonhada democracia. Esses regimes governamentais imperialistas fazem parte da cultura do mundo árabe e há outro item que merece reflexão: a religião tem mais poder do que o governo constituído. Ou seja, independente do regime de governo, é a religião que sempre tem a última palavra. O termo mais apropriado para classificar esses movimentos no Oriente Médio seria revolta, e não revolução, como sugerem os meios de comunicação. A maioria dessas pessoas que estão se ‘revoltando’ contra os seus vetustos governantes nem sabe ao certo a razão do conflito e pode, sim, estar sendo manipulada por interesses obscuros.
Os conflitos – ou revoltas – estão se espalhando e colocando o Oriente Médio no centro das atenções do mundo e não se pode prever como terminarão esses eventos. O discurso de todos os líderes desses movimentos é bastante conhecido e sedutor: a liberdade. Mas é intrigante, somente agora, perceberem que a liberdade – no sentido amplo da palavra – é a melhor coisa que possa existir numa sociedade.
Articulação obscura
Por ocasião da ‘revolta’ no Nepal, em que os nepaleses queriam derrubar a secular monarquia, perguntei a alguns nativos ‘revoltados’ a razão daquele movimento. A resposta era lacônica: liberdade. No Tibete, procurei uma explicação oficial para a invasão chinesa na Revolução Cultural, em 1950, em que foram assassinados um milhão e duzentos mil inocentes e inofensivos tibetanos e a resposta confunde mais do que explica: foi para libertar o Tibete dos tibetanos (?).
A rainha das Revoluções – a Francesa – fornece-nos elementos para a compreensão de como são arquitetados esses movimentos, pois a franco-maçonaria era que estava por trás da Revolução e a sua bandeira era a tão almejada liberdade de expressão e o fim da religião. O leitor não se espante em saber que Montesquieu, Kant, Rousseau, Voltaire, Karl Marx e outros tantos famosos eram maçons e usavam a sociedade secreta maçônica para articular a derrubada de governos autoritários, sugerindo desejar a construção de um governo único.
Curiosamente, Hegel e Marx diziam que a história sempre se repete, sugerindo que possa existir uma articulação obscura por trás de todas essas ‘revoltas’ no Oriente Médio sem que nem os ‘revoltados’ saibam da teleologia desse movimento…
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Advogado e psicanalista, Fortaleza, CE