Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Por uma política social de educação para a mídia

A definição de mídia é ampla e, de certa forma, confusa. Neste artigo definimos mídia como todo e qualquer meio de comunicação social, tudo aquilo que serve como transporte ou suporte de informações. No entanto, nossa hipótese considera mídia uma instituição social formada por pessoas, capaz de julgar e emitir pareceres conforme os interesses de seus interlocutores e patrocinadores.

Uma série de acontecimentos recentes no Brasil tem apontado a discussão básica da necessidade imprescindível de uma política social de responsabilização dos meios de comunicação no que se refere à educação, porém, até o presente momento, nada se tem de concreto. O senador Cristovam Buarque, desde 2008, luta pela aprovação da PEC 24/08 [PEC 24/08 acessado em 21/09/2010], que propõe uma nova redação ao art. 205 da Constituição Federal. O objetivo dessa alteração é deixar expresso na Lei Maior que a educação é também um dever dos meios de comunicação social.

Um dos principais fatores apontados por pesquisas recentes [Comunicação e educação: um ponto de mutação no espaço de confluência acessado em 21/09/2010] dá conta da transformação da aprendizagem no contexto tecnológico e midiático, não há nenhuma dúvida do impacto que os meios de comunicação causam na formação dos educandos, inclusive, no seu comportamento, no modo de se relacionar e, principalmente, na capacidade de agir e reagir frente aos desafios cotidianos.

Prioridades e posicionamentos conflitantes

A convergência de mídias, resultado da modernização das plataformas digitais, traz à tona novos desafios, dentre eles, o modo como essa alta gama de informação é conduzida. Diante da realidade brasileira, há uma urgência em repensar as formas de se fazer comunicação, atentando para sua função inegavelmente educativa. A mídia, na sua essência, é um espaço de criação e integração do discurso pedagógico, o que é relevante para a prática de ensino e aprendizagem.

Entretanto, no Brasil, em razão do desenvolvimento social e tecnológico, presenciamos que a educação abrange um enorme volume de atribuições, tanto no sentido de incorporar informações e saberes significativos ao momento, ou seja, o que está acontecendo agora, neste instante, como também a responsabilidade pela superação das barreiras culturais e socioeconômicas da população.

Nesse sentido, emergem prioridades e posicionamentos conflitantes, no que se refere às políticas sociais de educação através da mídia, entre os que acreditam em uma educação pela mídia (educar usando o instrumento da comunicação, mas que a própria comunicação se converta no eixo central dos processos educativos) e/ou educação para a mídia (educar para uma leitura crítica dos meios de comunicação, através de projetos que promovam o desenvolvimento de atitudes e comportamentos, habilidades e conhecimentos a partir das diversas formas de exercer o direito à comunicação). No entanto, independentemente dos métodos e procedimentos, os educadores brasileiros, são estimulados a educar pelas mídias e não para as mídias.

A importância da liberdade de expressão

Explicando melhor: o nosso argumento fundamenta-se na hipótese da existência de uma representação social [as representações sociais são saberes que ocupam espaços específicos na sociedade, e podem ser compreendidas como um conhecimento do senso comum, socialmente construído e socialmente partilhado, que se vê nas falas das pessoas e nas diversas e diferentes formas de comunicação, por exemplo, os comentários dos jornalistas na internet, no rádio e na televisão (Pedrinho Guareschi – Construtores da informação – Ed. Vozes, 2000)] de mídia entre os educadores. Para nós, há um pressuposto simbólico, entre os educadores, que legitima e da maior credibilidade a escola que adota ambientes digitais, pelo entusiasmo na tecnologia e pelo que pode ser chamado de ‘discurso sócio-midiático’. Nessa percepção, os métodos e informações formais reconstroem as maneiras pelas quais a realidade social é representada por um grupo social. Deste ponto de vista, as mídias se tornam um indicador da visão de mundo daqueles que a controlam.

A rápida adesão a vertente midiática na educação, pontuada na tecnologia da informação, expõe um confronto que vai além das fronteiras metodológicas. Nessa perspectiva ocorre também a apropriação acrítica, ou a não-consciência do que, realmente, está em questão: O papel das mídias na sociedade atual.

Há, de fato, muitos argumentos e controvérsias na questão midiática e foge a nossa competência estabelecer os termos desse confronto, contudo não podemos deixar de abordar o assunto da semana, que converge na mesma linha: liberdade de imprensa. A prática da denuncia em período eleitoral, por si só, pode ser caracterizado como eleitoreiro e com objetivos políticos porque, entre outros motivos, há possibilidade de alteração na escolha dos candidatos.

Estamos de acordo que não é papel do governo, enquanto representação máxima do Estado, julgar se os meios de comunicação estão certos ou errados em seus posicionamentos. Porém, é dever do Estado, dentro dos seus compromissos legítimos, proporcionar uma educação para a mídia, ou seja, enquanto não houver uma política social que estabeleça e, principalmente, esclareça a sociedade em geral da importância da liberdade de expressão não teremos a garantia desse direito.

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Psicólogo social, Porto Alegre, RS