O presidente Lula, seu partido e sua candidata consideram-se em guerra aberta com a imprensa brasileira.
Há uma nota falsa nessa postura. A mídia, como é mais elegante dizer hoje em dia, não é uma corporação sob um só comando e uma única liderança; nem mesmo um colegiado cujos membros decidem posições e comportamentos por maioria de votos. Também não tem a natureza – nem os apetites – da turma no poder. Em suma, não declara coletivamente guerra a ninguém.
Na realidade, o que existe no lado de cá dessa suposta briga é um conjunto de empresas particulares altamente competitivas entre si. São bem-sucedidas na medida em que conquistam e mantêm mercado publicitário e leitores ou espectadores.
Seu êxito depende de decisão do respeitável público. Ou seja, se ele considera, ou não, que lhe está sendo oferecido produto de boa qualidade.
Cruzada imprópria
Além de respeitável, o público não tem nada de tolo. Não troca o seu dinheiro por informação falsa ou tendenciosa.
Em outros tempos, talvez fosse mais difícil detectar alguma manipulação dos fatos pela mídia; hoje, em boa parte graças à internet, a notícia fajuta não engana ninguém.
Se as empresas de comunicação têm interesses comuns, nenhum deles é mais forte do que o desejo de serem preferidas – o que vem de serem respeitadas – por leitores e anunciantes. Estes não são bobos: pesquisas já mostraram que o cidadão leva mais a sério a publicidade que encontra nos veículos cujas notícias ele considera confiáveis.
Por tudo isso, quando os principais veículos de comunicação do país contam a mesma história, pode-se apostar: é porque essa história existe. Há, com certeza, um esforço de cada jornal, revista ou emissora para contá-la inteira e, se der, melhor que os concorrentes. Em suma, imaginar conluio e denunciar má-fé costuma ser – ou deve ser – apenas ridículo.
Inclusive por um dado: se hoje a mídia brasileira estivesse empenhada numa feia cruzada para derrotar a candidata oficial, estaria também interessada em levantar a bola para o seu principal rival. Não é isso que se vê nem se lê.
Serviço público
Nos últimos oito anos, o partido do governo executou com grande eficácia um projeto de ocupação da máquina do Estado pelos seus quadros. Isso foi noticiado pela mídia com a possível eficiência e, pelo visto, com escasso impacto sobre a atitude do eleitorado. Desmentido a sério, nunca foi. Mas, pelo visto e ouvido, irritou o pessoal.
O que se há de fazer, em face dos rosnados palacianos? Não é fácil, mas é simples: continuar apurando e contando o que acontece de bom e de ruim, nos salões e nos porões. Não é uma guerra contra os ocupantes do poder, e sim a rotina de prestar serviços ao cidadão aqui fora.
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Jornalista