Bob Dylan não merece o Prêmio Nobel de Literatura.
Ele merece os muitos Grammy que recebeu, incluindo um que ganhou em reconhecimento ao conjunto de sua obra, em 1991. Ele inquestionavelmente pertence ao Hall da Fama do Rock [aqui: https://www.rockhall.com/], ao qual foi incluído em 1988, ao lado das Supremes, dos Beatles e dos Beach Boys. Ele é um músico maravilhoso, um dos maiores compositores do mundo e uma figura imensamente influente na cultura estadunidense.
Porém, ao conceder o prêmio a ele, o comitê do Nobel está optando por não concedê-lo a um escritor e esta é uma opção decepcionante.
Sim, o sr. Dylan é um letrista brilhante. Sim, ele escreveu um livro em prosa poética e uma autobiografia. Sim, é possível analisar suas letras como poesia. Porém, os escritos do sr. Dylan são inseparáveis de sua música. Ele é ótimo porque é um ótimo músico e, ao dar o prêmio de literatura a um músico, o comitê perde a oportunidade de homenagear um escritor.
Com o hábito de leitura declinando em todo o mundo, prêmios literários são mais importantes do que nunca. Um grande prêmio significa um salto nas vendas e no número de leitores, mesmo para um escritor bem conhecido. Mais do que isso, porém, dar o Nobel a um escritor ou a um poeta é um modo de mostrar que a ficção e a poesia ainda têm importância, que tanto uma como outra são empreendimentos humanos cruciais, dignos de reconhecimento internacional.
A literatura precisa de um Prêmio Nobel
A música popular é um empreendimento assim também, mas, de um modo geral, ela já recebe o devido reconhecimento. Além disso, exceto por uns poucos prêmios de declamação, ninguém esperaria que as maiores honrarias da música fossem dadas a um escritor – não veremos Zadie Smith ou Mary Gaitskill no Hall da Fama do Rock.
Com a sua escolha, o comitê provavelmente não quis menosprezar a ficção ou a poesia. Homenageando um ícone da música, os membros do comitê podem ter desejado atribuir ao prêmio um novo capital cultural, fazendo-o parecer relevante às gerações mais jovens.
Mas há muitos modos pelos quais eles poderiam ter conseguido isso, homenageando, ao mesmo tempo, um escritor. Eles poderiam ter escolhido um escritor que tem feito inovações significativas na forma, como Jennifer Egan, Teju Cole ou Anne Carson. Poderiam ter selecionado um escritor do mundo em desenvolvimento, que lamentavelmente permanece sub-representado entre os laureados com o Nobel. Poderiam pegar um escritor que tivesse construído uma audiência principalmente online, como Warsan Shire, que foi a primeira a vencer o Young Poet Laureate for London [aqui: http://www.londonlaureates.co.uk/], em 2014.
Em vez disso, o comitê deu o prêmio a um homem que é internacionalmente famoso em outro campo, alguém cheio de honrarias por mérito próprio. Bob Dylan não precisa de um Prêmio Nobel de Literatura, mas a literatura precisa de um Prêmio Nobel. Este ano, ela não terá um.
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Anna North é editora do New York Times