Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Porque deu errado?

O jornal Folha de S.Paulo publicou em 18 de fevereiro o artigo “Reorganização da rede falhou ao ignorar vínculos com escola”, de Priscila Cruz, que é presidente-executiva do movimento Todos pela Educação. No texto, a argumentação central de Priscila é: “Entretanto, além do evidente problema de comunicação, o mais grave na proposta de reorganização foi a tentativa de fechar escolas, desconsiderando o vínculo dos jovens, das famílias e dos professores com esses espaços.”

Em parte, é verdade o que diz a autora. No entanto, é isso e muito mais… Ou seja, a reorganização da rede falhou ao ignorar a comunidade escolar, os pais, os alunos, os professores e entidade de classe como a Apeoesp, que fez boas críticas à reorganização. A verdade é uma só: o governo não consultou os interessados e quis fechar escolas para cortar gastos. Demitir professores, principalmente. Em seguida, tivemos uma série de protestos e ocupação de escolas no estado. Outro erro: com a reorganização, em muitos casos os alunos iriam estudar em escolas mais longe de seus domicílios.

Resultado: a popularidade do governador Alckmin, do PSDB, caiu muito. Segundo o Datafolha, foi de 48% para 28%. Abriram-se feridas… Preocupado com a queda de popularidade, o tucano adiou a reorganização. De outro lado, as três grandes universidades públicas do Estado – USP, Unicamp e UFABC – manifestaram-se contra o projeto tucano. A mídia, por sua vez, ficou ao lado do governador, como costuma fazer. Porém, com o crescimento das ocupações das escolas, a imprensa foi obrigada a rever o seu posicionamento. E passou a relatar o movimento de pais e alunos.

Pois bem, uma observação necessária: são muitos os fatores que levaram ao fracasso do projeto da reorganização. Entre eles, faltou diálogo com pais e alunos, faltou informação e faltou um debate mais aprofundado com a sociedade acerca das mudanças. Concordo com Priscila quando diz que nada justifica que 245 mil alunos, de 15 a 17 anos, estejam fora da sala de aula no estado mais rico do país. Aliás, espera-se que o novo secretário de educação, José Renato Nalini, ao contrário do anterior, dialogue com os professores, com os pais, com alunos, com a comunidade escolar e com os sindicatos. Tem mais, ninguém pode negar o fato de que a escola pública, apesar de maltratada e desvalorizada pelos sucessivos governos paulistas, ainda, oferece a todos oportunidade em termos de igualdade.

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Ricardo Santos é professor e jornalista