LÍNGUA PORTUGUESA
Troféu Hiena De Ouro 2006, 17/12/2006
‘Reinaldo Pimenta, autor do bestseller A Casa da Mãe Joana, que já vendeu 100 mil exemplares, é um dos melhores professores de Português que conheço.
Naturalmente faz mais do que estudar e ensinar Português. Em primeiro lugar, sabe ser amigo. Adoramos comer num dos restaurantes da rede australiana OutBack, aqui na Barra da Tijuca.
Talvez Pimenta goste mais pela sobremesa do que pelo principal. Degusta uma costela com gula, mas quando vem o Oblivion, verdadeira montanha de chocolate, ele parece voltar a seus tempos de menino e só não se lambuza todo porque é um homem bem educado.
Ao contrário de seu amigo, Pimenta não gosta de vinho. Sua bebida preferida é Coca-Cola.
Quanto ao que sabe de Português, convicto de que não somos o melhor juiz de nossos textos, é para ele que envio os meus quando estou desconfiado de tropeços involuntários, pois o Pimenta não deixa passar nada. Ele é a Dolores Ibarruri do idioma. No passarán, dizia a revolucionária sobre os fascistas. Pimenta não deixa passar erro algum.
Há, porém, um traço de sua personalidade que poucos conhecem: a grande arte de contar piadas. E este ano, como faz todo fim de ano, ele solicita que eu vote no Troféu Hiena de Ouro, que escolhe a melhor piada. Vou votar numa das seguintes.
‘Duas velhinhas estão jogando sua canastra semanal. Uma delas olha para a outra e diz: – Por favor, não me leve a mal. Nós somos amigas há tanto tempo e agora eu não consigo me lembrar do seu nome, veja só a minha cabeça. Qual é o seu nome, querida? A outra olha fixamente para amiga, por uns dois minutos, coça a testa e diz: Você precisa dessa informação para quando?’.
‘Padre recém-ordenado está atendendo confissões. Uma senhora conta o último pecado: fez sexo anal com o vizinho. Ele sabe de cor todas as penitências – seis padre-nossos para isso, seis ave-marias para aquilo – mas ignora a penitência para tal pecadão e pede que ela o aguarde um pouco. Vai à sacristia e começa a consultar os manuais. Cansada de esperar, a senhora sai. O próximo da fila é um português. O padre volta e, pensando que a mulher ainda está ali, pergunta: quantas vezes você fez sexo anal com seu vizinho? Surpreso, o português responde: ‘uma única vez, no ginásio, mas o senhor é padre ou vidente?’.
‘Um imigrante polonês está fazendo exame de vista para obter carteira de motorista em Nova Iorque. O examinador lhe mostra um cartão com as seguintes letras: C Z J W I N O S T A C Z. O examinador pergunta: – Você consegue ler isso? E o polonês: – Ler?! Eu conheço esse cara’.
Ah, Pimenta, só você para me fazer rir nesse fim de tarde de quinta-feira, depois de levantar às 5h, trabalhar até 15h na Barra da Tijuca, dar uma conferência em São Gonçalo às 17h, voltar ao campus de Rio Comprido e de lá seguir de volta para casa, aonde cheguei às 22h, depois de ouvir do motorista de táxi, que cortara o caminho pelo Alto da Boa Vista para evitar o trânsito: ‘aqui não tem trânsito, doutor, e é menos perigoso do que pelas favelas; às vezes os bandidos saem aí do mato para assaltar turistas, mas o senhor não é turista’.
Olhei parta meu notebook no banco do carro e lembrei do dia em que um juiz, uma estudante da USP e eu fomos roubados dentro de um ônibus que fazia o trajeto São Paulo-São Carlos. O ladrão levou meu notebook com um livro de contos inéditos. Este, sim, foi o grande prejuízo. Só por desaforo, escrevi outro.
Mas não é por desaforo que estou agora escrevendo. É por gosto, como sempre. ‘O sapo pula, o passarinho canta, eu escrevo’, diz o doutor Gregório se explicando à fazendeira Camila, com quem tem um caso, em Os Guerreiros do Campo. A conversa se dá num restaurante de São Carlos, cujo dono é leitor assíduo desta coluna. Não tem Oblivion, mas ‘tia’ Re faz um sagu delicioso. (xx)’
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