Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Professor alerta para ‘falso jornalismo’

O professor José Coelho Sobrinho, da Escola de Comunicação e Artes da USP, fez no sábado (6/3) a palestra inaugural de Seminários Avançados de Jornalismo, evento que a Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista (FAAC/Unesp) organiza todos os sábados, no primeiro semestre de cada ano. Ele falou sobre ‘Jornalismo e novas formas de alienação’, relatando pesquisa de sua autoria, junto com alunos da USP, já em fase final, sobre a distribuição de jornais gratuitos nas grandes cidades, por todo o mundo ocidental.

O professor discutiu o tema com os alunos do último ano de Jornalismo da Unesp, levantando um questionamento sobre a responsabilidade social do jornalismo. Explicou que os jornais gratuitos podem ser chamados de jornais, mas não se pode dizer que fazem jornalismo porque não trabalham com apuração nem com aprofundamento, limitando-se a transcrever notícias de outros meios e da internet, superficialmente, buscando apenas apresentar variedade de informação. ‘No entanto, informação não é comunicação’, destacou.

Para Coelho, o objetivo real desses jornais – que atingem tiragens de 20 milhões de exemplares, ou mais, no mundo – é veicular publicidade, utilizando um suporte disfarçado de jornalismo. Uma característica desses ‘jornais’, segundo o professor, é que eles nunca ‘sujam as mãos’, isto é, nunca se envolvem em causas polêmicas, em defesa do interesse público, não têm sequer uma linha editorial como os jornais convencionais. Portanto, não deviam ser tratados como mídia, mas como meros suportes publicitários. Sendo totalmente alienados dos interesses sociais, ‘prestam serviço a si mesmos, e não à sociedade, como deve ocorrer com o jornalismo eticamente comprometido com a população e com os seus leitores’, disse.

Saber onde vão pisar

Autor de vários livros na área, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Jornalismo Investigativo, o professor José Coelho Sobrinho disse que jornalismo não pode ser meramente técnica, tem que ser compromisso com a cidadania, pois o direito à informação de qualidade está previsto na Constituição, embora lamentando que os cursos de Comunicação sequer ensinem isto aos seus alunos nos quatro anos da faculdade.

‘O jornalismo sério e ético é importante para o equilíbrio social, é um trabalho de grande significado e todos devem se orgulhar quando participam, de algum modo, de um jornalismo socialmente comprometido’, resumiu.

O coordenador do debate, professor Pedro Celso Campos, lembrou que há, também, outros tipos de pseudo-jornalismo, pelo menos nos grotões do Brasil, onde o noticiário dos órgãos públicos, como prefeituras e câmaras municipais, é fornecido para os veículos locais em forma de releases como se fossem notícia, quando na verdade são matérias pagas pelas quais esses jornais recebem no final do mês. O mais grave é que o leitor/receptor recebe sempre a versão oficial das notícias como se fosse a notícia completa. Pior ainda: o engodo é pago com os impostos do próprio cidadão, que paga duas vezes para ser enganado: uma através dos impostos, outra ao assinar ou comprar o exemplar do jornal oficialista como se fosse um jornal profissional.

A palestra foi considerada muito oportuna pelos alunos presentes, pois ajudou a esclarecer que jornal não é a mesma coisa que jornalismo e que os futuros profissionais precisam estar atentos para saberem onde vão pisar – com obrigatoriedade ou não do diploma – ao deixarem a faculdade. Outros alunos acharam importante o debate porque esse tipo de tema não tem sido tratado nos cursos de Jornalismo.

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Professor da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Bauru)