Horas após sua libertação, na semana passada, a ex-senadora franco-colombiana Ingrid Betancourt interrompeu uma coletiva de imprensa, ainda na pista do aeroporto militar em Bogotá, para cumprimentar um homem que, segundo ela, é um dos responsáveis por estar viva. ‘Desculpem-me’, afirmou Ingrid, 46 anos e seis como refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), ao se afastar do microfone. ‘Mas isto precisa ser um abraço.’
O homem em questão é Herbin Hoyos, criador e apresentador do programa de rádio Vozes do Seqüestro, que transmite mensagens de familiares de pessoas seqüestradas pela guerrilha com o objetivo de que elas cheguem aos reféns. Ingrid conta que, em meio ao desespero, estas mensagens a ajudaram a afastar de sua cabeça a idéia de suicídio. ‘Eu nunca tentei [me matar]’, diz, lembrando que as palavras de sua mãe de e seus filhos no rádio a fortaleciam.
O Vozes do Seqüestro é um programa de extremo prestígio na Colômbia, onde, hoje, mais de 2.800 pessoas continuam nas mãos de seqüestradores, segundo a organização Fundación País Libre, em Bogotá. Há décadas, guerrilhas, grupos paramilitares e traficantes de cocaína usam o artifício para obter dinheiro e fortalecer seu status de negociação com o governo. Ingrid, libertada com outros 14 reféns das Farc, chamou Hoyos de ‘um amigo para a vida toda’.
Cordão umbilical
O programa é transmitido aos domingos, de meia-noite às seis da manhã, na Radio Caracol. Hoyos recebe ligações de centenas de colombianos que esperam que seus parentes seqüestrados possam ouvi-los. Ligações da mãe de Ingrid, de seus dois filhos e de seu marido eram regulares. Hoyos afirma que faz o Vozes do Seqüestro com o objetivo de manter os reféns vivos. Os seqüestradores, diz ele, ‘usam o programa pela mesma razão’.
O ex-senador Luis Eladio Perez, que ficou sete anos em poder das Farc, afirma que o rádio, com as mensagens de sua mulher e filhos, era seu ‘cordão umbilical’. ‘Chega um ponto em que você quer morrer. [As mensagens] fazem você se lembrar que sua família está lutando para libertá-lo. Que você tem que agüentar, tem que comer, tem que se exercitar. Tem simplesmente que tentar continuar vivo.’
Telefonemas
Hoyos teve a idéia para o programa em 1994, quando ele próprio estava seqüestrado. No cativeiro, na selva colombiana, ele viu um outro refém preso a uma árvore. Pensou que o homem – Nacianceno Murcia, 62 anos – estivesse morto, mas logo notou que segurava um rádio. Murcia contou a Hoyos – que era apresentador de um programa de notícias semanal – que o ouvia com freqüência, e reclamou que ele nunca falava sobre a situação dos seqüestrados. Libertado dias mais tarde, Hoyos dedicou parte de seu programa aos parentes das vítimas de seqüestros. Recebeu, em troca, uma enxurrada de ligações – o que acabou estimulando a criação do Vozes do Seqüestro. Outras estações seguiram o exemplo.
No domingo (6/7), Ingrid e outros quatro ex-reféns colombianos enviaram mensagens de esperança pelo programa de Hoyos aos seqüestrados das Farc na selva. Em uma ligação da França, Ingrid afirmou que continuará lutando pela libertação dos reféns. ‘Agora que estou livre, tentarei fazer o possível, na Colômbia e em outros países, para acabar com o seqüestro.’ O policial John Jairo Duran, libertado junto com Ingrid, disse aos reféns que o que aconteceu com ele e seu grupo prova a existência de Deus. ‘Não deixem que a tristeza domine vocês’, afirmou. Informações de Andrea Jaramillo [Bloomberg, 7/7/08] e de Liberdo Cardona [AP, 7/7/08].