Quando soube que o SBT iria bancar novamente o programa do Ratinho, vieram à mente as piores lembranças possíveis: casais brigando no palco por resultados de testes de DNA ao som de uma sirene de polícia e casos esdrúxulos de pessoas acometidas por doenças raras expostas cruelmente como aberrações humanas.
Entretanto, para minha surpresa, o programa apresenta atualmente um conteúdo diferente, com uma linha jornalística sólida e quadros bem encaixados, como por exemplo, aquele que informa sobre as celebridades nacionais. Claro que o jeito meio avacalhado do apresentador ainda está presente, mas o nível está bem superior ao do passado.
O Programa do Ratinho do dia 11 de maio começou surpreendentemente bem: uma matéria investigativa na qual os profissionais da emissora tiveram contato bem próximo com moradores de um acampamento de Sem Terra. Sem parcialidade alguma e ouvindo todas as partes, os jornalistas envolvidos ouviram reclamações de policiais responsáveis pela segurança das áreas rurais, proprietários das terras, autoridades das entidades envolvidas com a questão da reforma agrária, dentre outras pessoas. Com um tom crítico e abalizado – apesar da linguagem avacalhada característica do apresentador –, Ratinho foi muito feliz ao observar a utilização de crianças de apenas quatro anos por integrantes do movimento, além de observar muito oportunamente que o uso de máscaras por esses não tem justificativa porque quem precisa se esconder das câmeras é bandido.
Aposta é boa
Em seguida, utilizando-se de algo que hoje na televisão brasileira é praxe e corriqueiro, o apresentador ‘quebrou’ o cunho jornalístico do programa para fofocar sobre as celebridades nacionais. Mandou recado para o humorista Chico Anysio e elogiou a beleza de algumas beldades mostradas. Em seguida, bem ao estilo televisão brasileira vespertina, estabeleceu contato com um integrante da emissora que sobrevoava a capital paulista, alertando para um corte de água ocorrido na zona sul. Por fim, exibiu uma reportagem de uma casa que havia pegado fogo por motivos ainda desconhecidos. Enfim, o Ratinho adotou o formato fim de tarde da televisão brasileira, focando suas reportagens em acontecimentos diários das capitais brasileiras. Uma evolução, para quem conheceu o programa nos idos da década de noventa, sensacional.
O SBT concilia, dessa forma, um personagem de certo ‘sucesso’ na década passada por promover pancadarias no palco e pelo linguajar escrachado, com o formato jornalístico que caracteriza os programas vespertinos atualmente. O apresentador pode parecer um completo ignorante aos olhos de muitos, mas é visível que, mesmo não usando vocabulário preciso e rebuscado, Ratinho tem condições, sim, de elaborar argumentos sobre suas reportagens. Só falta, realmente, querer se desvincular do circo de horrores que o notabilizou e incorporar um papel de apresentador inteligente e bem informado. A aposta da emissora supramencionada é boa e deverá colher bons frutos nos segmentos mais humildes da população, considerando também a atração que tais fenômenos midiáticos costumam exercer nas camadas mais favorecidas, sobretudo entre os mais jovens.
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Jornalista, Salvador, BA