A venda da Dow Jones para a News Corporation pode estar perto de ser concretizada. De acordo com artigo de Richard Pérez-Peña no New York Times [29/6/07], o negócio aguarda a aprovação da família Bancroft, que controla a Dow Jones, para um acordo que garantiria a integridade editorial do Wall Street Journal, carro-chefe da companhia, em caso de compra pelo magnata Rupert Murdoch, dono da News Corp.
Murdoch ofereceu, no início de maio, US$ 5 bilhões pelo grupo. Críticos acusam o empresário de misturar jornalismo e negócios, e funcionários do Journal temem que, ao colocar as mãos no diário, Murdoch prejudique sua qualidade jornalística. Eles se preocupam também com uma provável onda de demissões caso o novo proprietário decida reestruturar a companhia.
Termos do acordo
Datado do dia 27/6, o acordo tem como base a criação de um ‘comitê especial’ formado por ‘respeitados líderes da comunidade e do jornalismo’. Estes membros seriam independentes da News Corporation e da família Bancroft. De início, a Dow Jones e a News Corp. decidiriam em conjunto os cinco membros do comitê – isso seria acertado antes da venda.
Três editores de extrema importância na empresa – o chefe de redação e o editor da página editorial do Journal e o chefe de redação da Dow Jones Newswires – seriam mantidos nos cargos. A News Corp. poderia demiti-los, e indicar novas pessoas, mas apenas com a aprovação da maioria dos membros do comitê especial.
No futuro, o comitê terá o poder de escolher novos membros independentes caso sejam abertas vagas, mas estas escolhas também devem passar pela aprovação da News Corp. – funcionários da Dow Jones temem que este item sirva de abertura para que Murdoch amplie seu poder na empresa ao longo do tempo.
Poderes e compromissos
A princípio, os Bancroft queriam um comitê em que os membros fundadores fossem nomeados pela própria família, e tivessem poder de contratar e demitir. A proposta da semana passada é mais parecida com acordo que Murdoch fechou ao comprar o Times of London em 1981, em que um grupo de ‘diretores independentes’ tem poder de veto sobre estas decisões – e que, segundo analistas de mídia, ajudou pouco a inibir o controle do empresário sobre o conteúdo do jornal.
Os membros do comitê da Dow Jones, entretanto, teriam mais poderes que os diretores de Londres – mas, de novo, surgem temores de que expressões como ‘adequado’ e ‘razoável’, presentes no documento, dêem um grande espaço de manobra para a News Corporation.
No fim, o acordo faria do comitê independente uma terceira parte em um pacto final entre a News Corp. e a Dow Jones: ele pode bloquear a contratação e demissão de editores de alto escalão, pode ir à justiça para garantir que a independência da companhia seja mantida, e pode conduzir investigações internas e publicar seus resultados na página editorial do Journal. O documento também garantiria verba para o funcionamento do comitê.
Os editores protegidos pelo acordo teriam poder de escolher a equipe abaixo deles, determinar o que publicar e decidir como usar seu orçamento. Além disso, o documento destaca que a News Corp. adotaria o compromisso com uma série de princípios de ‘integridade e independência editorial’ para todas as publicações da Dow Jones.
Divagações de Murdoch
Em entrevista à revista Time na semana passada, Murdoch divagou sobre possíveis mudanças que faria no modo como a Dow Jones funciona hoje. ‘E se, no Journal, nós gastássemos US$ 100 milhões, em um ano, contratando todos os melhores jornalistas financeiros do mundo? Digamos, 200 deles’, afirmou o empresário. ‘E se gastássemos algum dinheiro estabelecendo a marca, mas virássemos globais – um grande jornal com nomes icônicos, redatores extraordinários, repórteres, especialistas. E aí você torna este jornal gratuito, online apenas. Nada de impressão, papel, caminhões. Quanto tempo demoraria para os anunciantes chegarem? Seria um sucesso, funcionaria e você ainda faria um pouco de dinheiro’, afirmou. Será que os Bancroft gostaram dos planos?