Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Publicações discutem qualidade na imprensa brasileira

[do release da UNESCO]


Quatro publicações lançadas pela UNESCO no Brasil colocam em discussão a necessidade de parâmetros de qualidade para as empresas jornalísticas brasileiras. Os títulos fazem parte da série de ‘Debates em Comunicação e Informação’, iniciada em novembro de 2009 e que se insere entre as prioridades da organização no país [downloads disponíveis abaixo].


‘Definir indicadores de qualidade para o jornalismo está intimamente ligado ao objetivo de aperfeiçoá-lo e de aproximar os veículos de suas funções para com a democracia’, diz Rogério Christofoletti, um dos autores das publicações.


Desenvolvida pela Rede Nacional de Observatórios de Imprensa (Renoi) em parceria com a UNESCO no Brasil, a pesquisa ‘Indicadores da Qualidade da Informação Jornalística’ resultou em quatro publicações: ‘Indicadores da Qualidade no Jornalismo: políticas, padrões e preocupações de jornais e revistas brasileiros’, assinada por Christofoletti; ‘Jornalistas e suas visões sobre qualidade: teoria e pesquisa no contexto dos Indicadores de Desenvolvimento da Mídia da UNESCO’, de Danilo Rothberg; ‘Sistema de gestão da qualidade aplicado ao jornalismo: uma abordagem inicial’, de Josenildo Luiz Guerra; e ‘Qualidade jornalística: ensaio para uma matriz de indicadores’, de Luiz Egypto de Cerqueira.


Na opinião do Coordenador da área de Comunicação e Informação da UNESCO no Brasil, Guilherme Canela, a pesquisa e os quatro textos para discussão oferecem subsídios consistentes para um debate amadurecido sobre autorregulação dos meios de comunicação noticiosos. Segundo Canela, ‘os Indicadores de Desenvolvimento da Mídia da UNESCO deixam absolutamente claro que quando se trata de conteúdo jornalístico, o melhor caminho para a prestação de contas é a autorregulação’. ‘Isso, entretanto, requer um forte senso de qualidade e ferramentas objetivas para o acompanhamento das audiências, e isso é o que a pesquisa oferece para o debate’, explica.


Lançadas simultaneamente para facilitar a discussão sobre o tema da qualidade no jornalismo, as quatro publicações ajudam a compor um panorama de como jornais e revistas brasileiros vêm se organizando internamente para enfrentar os desafios mercadológicos e a crescente exigência de seus públicos. Para isso, os pesquisadores recorreram a um levantamento histórico das experiências de inovação e busca de excelência técnica, entrevistaram editores e gestores das principais publicações brasileiras, fizeram uma pesquisa com jornalistas e desenvolveram bases para uma matriz de avaliação da qualidade nos meios impressos.


Preocupação estratégica


O tema da qualidade parece contagiar as organizações jornalísticas brasileiras. É o que se percebe nas falas dos entrevistados da pesquisa. Trata-se de uma preocupação dos grandes grupos para buscar diferencial de mercado, reposicionar-se frente aos públicos e até mesmo adicionar valores intangíveis aos seus portfólios.


Foram entrevistados 22 gestores sobre indicadores e políticas editoriais de qualidade de suas organizações. Participaram da pesquisa grupos jornalísticos com abrangência nacional e regionais de 14 estados nas cinco regiões brasileiras.


Os resultados indicaram padrões e preocupações de jornais e revistas. As respostas às entrevistas permitiram, por exemplo, entrever o que pensam e com o que se preocupam editores-executivos, publishers e diretores de Redação da imprensa brasileira. Em termos de valores intangíveis, percebeu-se que não há consenso entre os sujeitos da pesquisa sobre uma articulação direta entre diversidade, pluralidade e qualidade na empresa jornalística.


Os gestores concordam que a ética sinaliza caminhos para a busca da qualidade, mas não há convergência de opiniões ou clareza sobre quais regras ou padrões seguir. Com isso, há pouca definição de princípios e conceitos, e possível descontrole ou pouca preocupação acerca das atitudes dos profissionais em situações práticas. Os gestores, no entanto, concordaram com o fato de que a garantia da independência financeira de suas empresas é requisito para a independência editorial.


O olhar da redação


A pesquisa também abordou a visão dos jornalistas sobre qualidade, recorrendo-se a um formulário eletrônico que foi respondido por 275 profissionais de todo o país. ‘O pressuposto deste procedimento é que a busca por métricas coerentes de avaliação de qualidade do jornalismo envolve a identificação de fatores de ambiente e cultura política que podem influenciar o desempenho dos profissionais da área’, explica o pesquisador Danilo Rothberg. ‘Assim, os papéis que os jornalistas atribuem a si próprios podem ser aspectos essenciais para as regras de produção de notícias.’


O formulário eletrônico foi elaborado com base nos ‘Indicadores de Desenvolvimento da Mídia’ (UNESCO, 2008), um abrangente roteiro de avaliação de vários fatores que determinam a qualidade da contribuição das mídias para a expansão da democracia.


Os resultados obtidos permitem sustentar que os jornalistas sondados estão esclarecidos a respeito da importância de critérios de qualidade que, embora tenham sido definidos de acordo com a visão específica sobre o tema apresentada pelo documento da UNESCO, possuem ampla validade, a ponto de serem considerados adequados à aplicação generalizada. A elevada concordância com os conceitos de qualidade propostos indica que, entre a amostra, a atuação profissional está solidamente relacionada a princípios claros, objetivos e atuais segundo as prescrições de uma organização multilateral atenta à qualidade das mídias em todo o mundo.


Instrumento inédito


Para os pesquisadores, a definição de Indicadores de Qualidade, inseridos num sistema de gestão, pode ajudar tanto os grupos que monitoram organizações jornalísticas quanto a estas próprias a identificar com maior precisão quais são os atributos qualitativos desejáveis e quais os vícios a serem evitados em produtos e serviços. ‘O desafio da qualidade no jornalismo articula duas dimensões: a existência de ambientes sociais, culturais, políticos, econômicos, que sejam voltados para a qualidade; e a existência de organizações que se comprometam e desenvolvam know how suficiente para alcançar padrões de desempenho definidos e aferidos por meios públicos, os quais podem ser afirmados como ‘padrões de qualidade’’, afirma o pesquisador Josenildo Guerra.


A matriz de indicadores de qualidade proposta se apoia nas teorias do jornalismo, em documentos como os ‘Indicadores de Desenvolvimento da Mídia’ e em normas-padrão reconhecidos pela Fundação Nacional da Qualidade. São levados em consideração aspectos como responsabilidade da direção e liderança organizacional, estratégias e planos, elementos de audiência e sociedade, gestão de recursos, itens de realização do produto e dos processos, e medição, análise e melhoria/resultados. De acordo com o pesquisador Luiz Egypto Cerqueira, esta matriz pretende ser o passo inicial para a construção de uma ferramenta mais abrangente de indicadores de qualidade: ‘O intuito é servir de subsídio a processos de autoavaliação de empresas jornalísticas e a projetos derivados de políticas de qualidade e de programas de excelência’, diz.


Publicações para download


**Indicadores da Qualidade no Jornalismo: políticas, padrões e preocupações de jornais e revistas brasileiros‘ – Rogério Christofoletti


**Jornalistas e suas visões sobre qualidade: teoria e pesquisa no contexto dos Indicadores de Desenvolvimento da Mídia da UNESCO‘ – Danilo Rothberg


** Sistema de gestão da qualidade aplicado ao jornalismo: uma abordagem inicial‘ –Josenildo Luiz Guerra


**Qualidade jornalística: ensaio para uma matriz de indicadores‘ – de Luiz Egypto de Cerqueira