O trabalho jornalístico que Alberto Dines desenvolve nesta seqüência de artigos tem duas dimensões: uma, a da autocrítica (como parte da imprensa que é o OI e pela missão a que se consagra) e, duas, a do jornalismo investigativo (pelo menos no cotejo das declarações e na montagem de um quadro geral o mais afastado possível das paixões e das manchetes carnavalescas), tratando com responsabilidade, objetividade e respeito a informação ou o trabalho jornalístico de interesse público ao abordar, com conseqüência, o já chamado Waldogate. Para satisfação dos seus leitores, Dines parece não se conformar com a incompetência (ou inapetência?) de revistas e jornais a respeito do tema.
Agora temos informação nova e de interesse público – não fofoca e pirotecnia! –, ou seja, o senador Antero Paes de Barros foi a fonte da revista. Ele tem que dizer de quem recebeu as fitas. Aqui a coisa muda de figura. Creio ter ouvido o senador declarar que recebe muitas denúncias e fitas, cartas, pacotes sem identificação, e que teria sido esse o caso.
Continuamos aqui diante do problema da ilegalidade e da falta de ética. Qual seria o caminho correto de S. Excia.?
1.
Entregar ao Ministério Público e a quem mais julgasse necessário, incluindo seus pares no Senado, mantendo-se o sigilo para verificação de autenticidade, investigação do conteúdo e – importante – da origem? Ou,2.
Entregar ao MP e à imprensa sem quaisquer preocupações com e segunda intenção dos autores? E,3.
É lícito à imprensa fazer uso de material – ainda que autêntico o seu conteúdo – sem identificação de fonte primária, tornando-se assim ‘correia de transmissão de interesses a ela estranhos, sobre os quais seria a sua função debruçar crítica e investigativamente? E ainda,4.
Se o senador fizesse a denúncia da tribuna não serviria, também ele, de ‘moleque de recados’ do crime? E mais um,5.
Ou tudo é uma questão do modo como se aborda o problema, dos interesses que o instrumentalizam, da absoluta dissonância entre a consciência do interesse público e os mais variados interesses mesquinhos e de curtíssimo prazo?Luiz Paulo Santana, Belo Horizonte
Opção pelo poder
Lógico que todos os cidadãos deste país gostariam de conhecer todos os meandros do poder paralelo da contravenção, até para podermos nos posicionar. O governo, já nem digo do PT, está impedindo uma CPI. Lá, até o senador Antero Paes de Barros também teria de esclarecer a origem das fitas. No entanto, a grande pergunta que insistem em não fazer é: num partido, quem tem alçada para determinar os destinos dos recursos coletados durante uma campanha eleitoral? Quem mandou que aqueles recursos coletados pelo Sr. Waldomiro fossem para as campanhas do Magela (DF), da Rosinha Garotinho e da Benedita? Quem mandou o obscuro Sr. Waldomiro achacar os que vivem na fronteira da ilegalidade? Concordo que saber a origem das fitas e as motivações que as fizeram vir à luz não deixa de ser importante, mas não podemos calar diante do fato de podermos estar convivendo com uma articulação de poder desprovida de qualquer sentido ético. Como aliás tem sido toda nossa experiência republicana.
O que não impede de nos indignarmos, ainda. Na verdade esses fatos são apenas fruto da opção que o PT fez, ainda na década de 80, por ascender ao poder. Foi quando me afastei da militância porque extinguiram a Inter-Núcleos, fórum decisório na então estrutura partidária. Ao optar pelo poder ele passou a ter que jogar o jogo segundo as regras estabelecidas, e foi o que fez. Os meios acabam inviabilizando os fins. Chegaram ao poder para descobrir que não podem nada.
Rodolfo Segabinazzi, assessor parlamentar, Brasília
Cegueiras variadas
O brilhante advogado do senhor Waldomiro Diniz orientou seu cliente a não prestar informações no inquérito policial que o investiga por cobrança de propina e envolvimento com o crime organizado. É uma estratégia de defesa cujo sucesso depende da não instalação de um comissão de investigação no parlamento, onde o senhor Diniz não poderia recorrer ao expediente do silêncio. Infelizmente, a maioria governista no Senado enterrou a prerrogativa da minoria de exercer a fiscalização do Executivo. Creio que diante deste cenário, senhor Dines, a tal zona cinzenta citada em seu artigo fica tão ampliada que beira a hipocrisia a cobrança a respeito da origem da gravação, ainda mais quando não diz palavra a respeito do fato principal (a clara extorsão verificada na fita).
Uma CPI poderia apurar inclusive a origem e os caminhos que levaram a gravação a se tornar pública. E, de quebra, desvendar outras questões mais importantes que ficarão igualmente relegadas à tal zona cinzenta. Pena que este Observatório queira tapar um olho e enxergar somente a parcela cinzenta que não ofende o governo Lula. Existe um dito popular de que ‘em terra de cego quem tem um olho é rei’. Eu costumo fazer uma variação do dito para constatar que ‘em terra de cego quem tem um olho chora pelo que vê’. De repente ficou tudo tão cinzento, inclusive neste OI, que só me resta chorar por este triste país.
José Roberto Amador, jornalista, Cuiabá
Lulista, petista e diversionista
É impressionante a defesa aberta que esse OI tem feito do governo Lula. Para desviar o foco do problema maior – a corrupção há muito encruada no PT, observada em todos os lugares por onde administrou – fixa-se a discussão acerca da fonte da notícia, como se o crime maior fosse dos detratores. Há muito a imagem honesta e proba do PT se desfez – lembram do caso Lubeca? Faz tempo, hein? –, se ainda se mantém até hoje é por conta de uma imprensa subserviente aos interesses da esquerda. Chega a ser asqueroso ver os profissionais da esquerda repugnando o denuncismo, arma tão utilizada pela esquerda na oposição e prestigiada pelos mesmos profissionais da imprensa quando o governo era outro. Não é só os quadros políticos do PT estão destilando hipocrisia. As redações também marcham no mesmo passo.
Jean Spinato, advogado, Chapecó, SC
Nota do OI: Diante das dúvidas dos dois leitores acima, voltamos a publicar, abaixo, a seleção de links para artigos em que Alberto Dines, autor da expressão ‘jornalismo fiteiro’, condena o uso irresponsável pela imprensa de fitas, grampos e fontes suspeitas – seja qual for o governo de plantão.
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Artigos de A.D. sobre o jornalismo fiteiro publicados no Observatório
Quando grampo não é grampo – A.D.
O caso da fita, verso e reverso – A.D.
ACM, a mãe de todos os grampos – A.D.
Quando jornalismo é só fita, até ventilador desanima – A.D.
Quem não tem grampo vai a Miami – A.D.
O fetiche das fitas – Alberto Dines
Suicídio das baleias enforcadas em fitas – A.D.
A quem pertence um bem público? – A.D.
A bomba de Época exigiu explicações – A.D.
O Globo, um feito e uma pista – A.D.
Que tal examinar edições antigas? – A.D.
O denuncismo nunca mais será o mesmo – A.D.
Fita-bomba e leviandade máxima – A.D.
No reino da arapongagem – A.D.
Época enrolada – A.D.
Quem tem grampo tem tudo – A.D.
Rotina dos grampos agora tem novidade: a torpeza – A.D.
Impressões digitais – A. D.
Grampo cresceu e virou mordaça – o que é pior? – A.D.
Entre o grampo e a mordaça – A.D.
Hora de trocar o espetáculo – A.D.
Mídia fuzila antes de apurar – A.D.
Vazamentos, grampos & fitas: um caso de moralismo seletivo – A.D.
A quartelada midiática – A.D.
Turma do grampo não quer ser incomodada – A.D.
Máfia do grampo e cumplicidade da mídia – A.D.
A volta triunfal do jornalismo fiteiro – Alberto Dines
Quando a mídia for grampeada – A.D.