O morador do bairro carioca de Santa Teresa que foi dormir na noite de 16/4 atormentado pelas notícias de Blacksburg, na distante Virgínia (EUA), não podia imaginar que acordaria sobressaltado na madrugada com um dos mais violentos tiroteios da história do Rio. A selvageria começou às 3 da manhã, e até às 9h as rajadas não pararam. Quem podia não saiu, vísceras trêmulas de angústia. O telejornal RJ-TV (17/4) do meio-dia mostrou cenas de pânico no Catumbi, bairro separado de Santa Teresa pelo Viaduto São Sebastião – por sinal, O Globo insiste, décadas depois da ditadura, em chamá-lo de ’31 de março’, nome infame imposto pelos golpistas, apesar de ignorado pelo carioca –, que leva ao Túnel Santa Bárbara.
O RJ-TV mostrou também um policial militar, plantado na pista da movimentada Rua Itapiru, despejando tiros de arma pesada em direção ao Morro da Mineira, onde avistara bandidos postados em lajes. Transeuntes, repórteres e cinegrafistas se protegeram, desvalidos, como puderam. O carioca consciente, que tem horror a traficante e tiroteio, passou o dia esperando que a mídia se manifestasse sobre o ensandecido ‘representante da lei’ que esvaziou seu fuzil, sem mirar nem nada, nas casas de moradores inocentes da favela, casas de tijolos vagabundos, que aquelas balas poderosas atravessam como manteiga.
Turismo seguro
Nada. O que se viu no RJ-TV da noite, no Jornal Nacional e na Globo News foi o governador Sérgio Cabral elogiando a ação – ‘bem-sucedida’ – da polícia, ‘bem treinada para estas ações’… tão bem treinada que deixou 15 mortos. Tudo bandido, afirmaram, mas quem comprova isso em bairro pobre? Cabral acrescentou que as Forças Armadas, que ele convocou ao Rio, não cumprirão tais funções, e sim as de policiamento ostensivo.
Resta ao tal carioca consciente chorar. Foi-se o tempo em que a imprensa esclarecia as coisas e apelava ao bom senso das autoridades (a mídia agora acirra a loucura). Pois Forças Armadas, como se diz repetidamente, são para ações de guerra, certo? Têm treinamento de tiro (não têm?), respeito aos civis, comando que avalia, pondera as situações. Não é isso? A PM, sim, é para policiamento. E seu despreparo no Rio é gritante, ação após ação.
Enquanto a insanidade comer solta e a mídia permitir, cariocas e turistas deviam fazer turismo em Gaza. É mais seguro.