Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Quando anúncio é confissão

O “Informe Publicitário” publicado pela Siemens do Brasil e assinado pelo seu presidente na primeira página da Folha de S.Paulo no domingo (11/8) não pode ficar sem reparos (ver íntegra abaixo). Por que só na Folha? A empresa só tem contas a prestar ao jornal que iniciou as revelações sobre o suposto cartel para vencer licitações de trens e metrô? E os leitores dos demais jornais que acompanham o caso?

A Folha aproveitou o privilégio e incluiu o que lhe pareceu mais relevante no noticiário do dia. Ganhou duas vezes – merece. Além do tácito reconhecimento de seus malfeitos em outros tempos e outras partes do mundo, a Siemens proclama de maneira contundente a intenção de não envolver-se com os desdobramentos das investigações nem endossa suposições ou acusações que não sejam baseadas em provas validadas.

Fez muitas besteiras, não quer repeti-las. Não quer que o seu mea culpa seja visto como estratégia publicitária, mas como compromisso com a transparência visando uma sociedade mais ética. É uma denúncia contra a concorrência desleal, desonesta e indício de que o capitalismo precisa mudar.

A peça deveria ser examinada com atenção por consórcios, lobbies e empresas, nacionais ou estrangeiras, públicas ou privadas, concessionárias, vendedoras de equipamentos e/ou serviços. Também por administradores de crises e assessorias de comunicação que, quando flagrados, geralmente aconselham os clientes a optar por subterfúgios e pela opacidade.

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O comunicado da Siemens

“A Siemens tem conhecimento das investigações conduzidas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), tornadas públicas pela imprensa, quanto a um suposto cartel no fornecimento de carros de trens, manutenção e construção de linhas de trens e metrôs, objeto de licitações ocorridas entre meados da década de 1990 e 2007.

“A empresa coopera integralmente com as autoridades, manifestando-se oportunamente quando isso é requerido e permitido pelos órgãos competentes. Tendo-se em vista que as investigações ainda estão em andamento e a confidencialidade inerente ao caso, a Siemens não pode se manifestar publicamente quanto ao teor das matérias que têm sido publicadas pelos diversos veículos de comunicação. E espera que o assunto seja tratado com a devida seriedade e não como instrumento para qualquer outro uso ou interesse.

“Por isso, a Siemens vem a público refutar quaisquer acusações que não sejam baseadas em provas validadas por órgãos oficiais competentes e que denigram a imagem, seja da empresa, de governos, partidos políticos, pessoas públicas ou privadas, ou qualquer integrante da sociedade.

“Em 2007, estabelecemos um sistema de compliance (integridade e obediência às leis) para detectar, remediar e prevenir práticas ilícitas que porventura tenham sido executadas, estimuladas ou toleradas por colaboradores e chefias da Siemens em qualquer lugar do mundo. Trata-se de um compromisso inegociável, que assumimos mundialmente, de eliminar tais condutas e que nos coloca na vanguarda da mudança que todos querem para a sociedade.

“Infelizmente isso pode ser entendido de forma equivocada. Esse é o preço de um movimento transformador da sociedade. Não se trata de um discurso vazio ou estratégia publicitária. É um compromisso sério, que não admite desvios. E não se refere somente ao presente e ao futuro, mas também ao passado, sem se eximir de investigar casos que tenham ocorrido em qualquer lugar do mundo.

“Estamos vivendo um momento ímpar da História do País, rumo a uma sociedade mais ética, à integridade e às mudanças necessárias para que haja um legado de transparência. A Siemens acredita que somente a concorrência leal e honesta pode assegurar um futuro sustentável para as empresas, os governos e a sociedade como um todo. Dessa forma, reiteramos nosso compromisso e empenho em dedicar todos os esforços para que os nossos funcionários e parceiros ajam de acordo com os mais elevados padrões de conduta.” [Paulo Stark,  Presidente e CEO da Siemens Brasil]