Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Quatro momentos históricos

As vésperas das eleições têm sido invariavelmente tensas, desde que a população brasileira retomou o direito de votar, pós-ditadura. Não só nas eleições presidenciais. Exemplo inesquecível: a eleição de Leonel Brizola em 1982, no Rio de Janeiro, quando houve uma tentativa espúria de golpe, o chamado ‘caso Proconsult’, que o combativo ex-companheiro de João Goulart conseguiu abortar.


Brizola foi também personagem de outro momento histórico, quando a TV Globo foi obrigada a lhe dar um direito de resposta de mais de três minutos em 1994. A participação decisiva da mídia no episódio do sequestro de Abílio Diniz, em 1989, que ajudou a eleger Fernando Collor, é outro emblema do golpismo e do desprezo pela democracia. Relembrem, abaixo.


1. Caso Proconsult


Em 18 de novembro de 1982, com a demora na divulgação dos resultados da eleição para o governo do Rio de Janeiro, o então candidato Leonel Brizola, do PDT, apontado como virtualmente eleito na boca de urna, foi à imprensa internacional para denunciar uma tentativa de fraudar a apuração a favor do candidato do então PDS e da ditadura, Moreira Franco. Foi o chamado escândalo da Proconsult (nome da empresa encarregada de apurar os votos). Trabalhando a favor da conspiração, a TV Globo foi forçada a recuar. Brizola venceu o combate, foi eleito e governou o estado. Leia mais clicando aqui.


2. Lula x Collor


Em 1989, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial entre Lula e Fernando Collor, o empresário Abílio Diniz foi estranhamente sequestrado por ativistas políticos (argentino, chileno e canadense) que, supostamente, pretendiam com o resgate arrecadar fundos para a guerrilha em El Salvador. Collor ganhou, com apoio da Rede Globo, que ainda editou o último debate entre os candidatos de maneira suja. Se eram de fato militantes de esquerda (nunca se sabe), aqueles sequestradores eram muito burros.


3. Brizola x Globo, de novo


Atacado pela TV Globo, que o chamou de senil, novamente Leonel Brizola, governador do Rio de Janeiro, venceu uma batalha e conseguiu um direito de resposta de mais de três minutos na Rede Globo. O texto de Brizola foi lido por Cid Moreira no próprio Jornal Nacional. Era o dia 15 de março de 1994, ano de eleições para presidente da República e governadores de estado. O histórico direito de resposta está neste link.


4. Mídia x Lula 


Em 2006, depois de mais ou menos aceitar a inevitável eleição de Lula em 2002, em decorrência também do catastrófico governo de Fernando Henrique Cardoso, e amparados na certeza de que o governo do metalúrgico fracassaria, os barões da grande imprensa tentaram de fato um golpe. A revista Veja trabalhou sistematicamente por quase todo o primeiro mandato de Lula tentando enfraquecê-lo com seu jornalismo marrom, produzindo manchetes que se alastravam para os jornais e que se auto-alimentavam em profusão, principalmente a partir do chamado ‘escândalo do mensalão’.


Veja não conseguiu abalar a popularidade do presidente, e, diante da iminente reeleição do petista, a mídia estampou em capas apoiadas por manchetes as célebres fotos ilegais, tiradas por um policial, do dinheiro apreendido – no chamado ‘escândalo dos aloprados’ – e supostamente destinado a comprar um dossiê contra o então candidato ao governo de São Paulo José Serra (PSDB), sempre Serra, que parece estar presente em todos os lugares onde aparece o termo ‘dossiê’. Por falar em jornalismo marrom, uma capa inteira da Folha de S. Paulo de então – com Lula abaixo da página, encapuzado, proporcionando a óbvia associação com a imagem de um criminoso – é o mais acabado exemplo desse gênero de subjornalismo que o jornal da família Frias conseguiu produzir.


5. O trocadilho vagabundo de Veja


Por tudo isso, não surpreendem coisas do nível da capa de Veja, com a ‘manchete’ valendo-se de um trocadilho vagabundo: ‘O polvo no poder’. A chamada de capa denota, de resto, como é mesquinha e calhorda a elite brasileira diante da idéia do ‘povo no poder’, que é justamente o que ela sempre temeu. A frase de Veja é um significativo sintoma de seus temores. Talvez até um ato falho, em formato semântico. O problema para a publicação dos Civita, que se gaba de ter 1 milhão de assinantes, é que esse milhão é pouco diante dos 30 milhões de cidadãos que os oito anos de Lula elevaram às classes médias.


Por tudo isso, apesar da dianteira de Dilma Rousseff nas pesquisas, embora a eleição pareça decidida, ainda haverá resistência de uma oposição perdida e truculenta. São esperadas novas bombas de lixo contra a democracia pela aliança entre José Serra e a vergonhosa imprensa deste país. Apesar de que a própria imprensa, cabo eleitoral maior do tucano, faz algum tempo dá sinais de estar desencantada com as estratégias do chefe do PSDB paulista.


Por fim, seja do partido ou tendência que for, qualquer cidadão disposto a um debate de alto nível sabe que um governo, máquina enorme, não será jamais formado por anjos. O problema que tanto aflige Veja, Folha, Estadão e Globo não é esse. O problema é que os ex-governantes do Brasil não admitem que a riqueza mude de mãos ou seja distribuída. É isso que está em jogo. É isso o que os ex-governantes querem evitar a qualquer preço, valendo-se de quaisquer meios.

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