A máxima que diz que cada país tem o governo que merece também vale para a oposição, que a tem como deva merecer. Em outros tempos, a oposição no Brasil tinha bem mais do que discursos raivosos. Havia intelectuais de grande naipe e capacidade de argumentação que deixavam os adversários então no poder em situações difíceis.
Desde tempos históricos, a oposição, amparada em empresas de informação que manipulam os discursos através do filtro nos acontecimentos, navegou por mares tranquilos, já que os governos, quando não ela, se limitavam aos discursos oficiais e sem palanques que lhes permitissem o contraditório. Hoje, a informação é livre e permite que o contraditório, não só de intelectuais – digamos, hoje situacionistas –, venha à tona e se coloque de igual para igual na exposição de argumentos.
Desamparada, tendo em vista que as mídias alinhadas sozinhas não conseguem calar as vozes que reverberam na globosfera, a oposição vai em ritmo de circo mambembe tentando, através de factoides, mostrar algum serviço.
A “barriga” monumental que o jornal O Globo cometeu ao trombetear que a Venezuela impedia a ida de senadores brasileiros para se solidarizarem com presos políticos foi desmoralizante. No entanto, fazendo vezes de autista, o jornalão ignorou o próprio erro e foi procurar outros focos de atenção ou desatenção. Olhando a situação do preso político venezuelano, poderíamos imaginar que, caso algum político importante do partido do governo fosse preso, sob as águas da lava a jato, ele seria, aos olhos dos jornalões, um preso político?
Lá, os opositores são presos por tentativa de fraude ao processo político. Aqui, tenta-se de todas as maneiras, quer via processo judicial, inquisitório, midiático, escondido em versões mambembes de cadeia da legalidade, ou simplesmente submetendo o país a vexames no exterior, praticar o mesmo golpe de Estado. A oposição parece o cachorro que ficou preso no quintal e tenta entrar na residência de todas as formas, ora latindo, rosnando, arranhando a porta ou fazendo uma travessura para chamar a atenção.
Incitação ao ódio e argumentos seletivos
Na falta de algum intelectual que ponha ordem na casa e construa um discurso baseado em fatos que mereçam ser contestados, tendo em vista a força da dialética, políticos que mais parecem meninos mimados privados do poder envergonham aquilo que poderíamos chamar de oposição respeitável e, de fato, com possibilidades de ganhar corações e mentes.
A imprensa alinhada vai tentando, através da sucumbência de informações, ou de exagero e postergação de notícias requentadas, manter os ânimos, com uma postura cínica, como se um circo remendado quisesse participar de eventos além das suas possibilidades. Ignoram-se os deslizes dos políticos alinhados, as investigações da Polícia Federal que lhes atiram nos pés e continuam a se portar como pudicas ninfas. Esse comportamento poderia ser advindo da falta de pensadores que mudassem o disco do século que se encerrou e se alinhassem na pós-modernidade, na busca do discurso que abraçasse interesses comuns?
A esquerda alterou o seu discurso, abandonando o fator do comunismo e socialismo, e ergueu o pós-moderno conceito de que as diferenças devam ser aninhadas e o capitalismo ser socializado através da promoção de auxílio do Estado ao despossuído. Contra ela, a oposição, alimentada pelos editoriais e artigos das mídias, tenta construir argumentos, baseados na desmoralização dos programas ou o incitamento aos processos inquisitórios.
Cansada de bater no muro já há mais de uma década, sendo derrotada no pleito democrático, um novo aliado a ela se junta: os procuradores e juízes claramente tentando atacar o partido da situação, um intruso intrometido que apareceu na História, saindo do figurino da oposição que não mete medo e apenas faz pano de fundo no painel democrático, para o papel de personagem principal.
As formas de ataque? A discriminação judiciatória, a incitação ao ódio e os argumentos seletivos; o que me favorece é bem-vindo, o outro, ignorado.
Afinal, essa é a oposição que o país merece?
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Nilson Lattari é escritor