A mídia dedicou seus mais extremados esforços a destruir Lula e o PT nos últimos 18 ou 19 meses. Transformou o adjetivo ‘petista’ em xingamento mais grave do que o velho ‘FDP’. Trombeteou manchetes que buscavam achincalhar integrantes e simpatizantes do Partido dos Trabalhadores. Todas as referências buscavam associar os ‘petistas’ a malfeitorias e desmandos. A condição de filiado do partido, ou de eleitor de Lula, tornou-se, por si só, indicativo de suspeição iure et de iure, ou, em bom ‘juridiquês’, aquilo que não admite prova em contrário.
E agora, pasmem os senhores leitores, a mídia sente-se ultrajada: os ‘Homer Simpsons’ resolveram criticar a todo-poderosa entidade. Atribuem-lhe uma parcialidade escandalosa. Isso, na visão dos representantes da onipotente instituição, é o mais grave dos anátemas. E eles berram. Gritam sua inocência aos quatro ventos. Indignam-se com tamanho despautério. Onde já se viu, leigos suspeitando das divindades? Como se atreve a ralé a contestar o que foi publicado nos grandes jornais? Quem é essa gente que tem a audácia de não acreditar no William Bonner e na Fátima Bernardes? A verdade absoluta está na mídia, gritam seus representantes. A única opinião possível é a publicada, garantem seus defensores. A mídia grita. A mídia geme. Como criança apanhada com a mão no pote de doces, alardeia sua inocência. Trombeteia sua defesa: ‘Ataque à liberdade de imprensa! Censura! Autoritarismo! Retrocesso!’.
Nada disso. É flagrante mesmo. Pensaram poder fazer a cabeça do povo e se deram mal. A hora da cobrança chegou.
Bem feito!
Nenhuma liberdade é absoluta. As liberdades têm por limite o interesse maior da sociedade. Assim é que existem dois princípios em direito. In dúbio pro reo e in dúbio pro societas. Nesse caso, não há que discutir qual princípio a ser invocado. A mídia tentou, e se deu mal, influir no processo político em favor de um dos candidatos. Perdeu. Agora tem mais é que assumir a culpa e agüentar as conseqüências. A credibilidade foi para o espaço. Os mais exaltados querem descontar nos repórteres. Felizmente ninguém resolveu organizar uma turba e empastelar algumas redações.
Paciência, eu recomendo. É uma das lições da democracia. Acabou o tempo em que se fazia a cabeça do povo com um texto bem-escrito. O ‘lacerdismo’, invocado por Dom Fernando, O Invejoso, é passado. Perdeu-se, como Avalon, nas brumas de um novo tempo. É hora de aprender. Ninguém mais pode, de uma redação, ou bancada, conduzir a nação. Os influenciáveis por manchetes e colunas são minoria. Não decidem mais nada.
Então, já que a mídia age como a criança flagrada que fez o que não devia e se machucou, eu digo: Tá dodói? Bem feito! Quem mandou teimar?
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Policial civil, São Pedro do Sul, RS