Vira e mexe leio acusações contra a imprensa de que ela é golpista. São acusações às vezes genéricas, mas às vezes específicas: a imprensa de São Paulo é golpista! Os jornalões (não é preciso dizer que se referem ao Estado de S.Paulo e à Folha de S.Paulo) ou ‘aquela revista’ (Veja, sem dúvida alguma). Em relação aos jornalões ou às revistas do Rio as acusações são menos freqüentes, mas não deixam de acontecer.
De qualquer forma, todas essas acusações não refletem o que a imprensa brasileira – jornalões ou revistões – publica em seus noticiários, comentários ou editoriais. Somente quem não viveu e presenciou o comportamento da imprensa nos idos de 1964 pode acreditar que ela hoje seja golpista. Quem manchetou ‘Basta!’, que virou senha do golpe, foi o Correio da Manhã em 1964…
Nenhum jornal ou revista na atualidade colocou em manchete, ou mesmo em seu noticiário, comentário ou editorial, qualquer afirmação que possa ser interpretada como incentivo ou estímulo a um golpe de Estado. Até porque não existem as mínimas condições objetivas ou mesmo subjetivas para alimentar ações golpistas por parte das oposições. O mundo mudou, e muito, de 1964 para cá. Hoje, nem a situação internacional, ao contrário da existente naquela época, em relação ao Brasil principalmente, indica interesse em desestabilizar o governo Lula para criar condições para um golpe.
Um ‘milagre econômico’
E quando se fala em golpe, não pode ser outra a interpretação: golpe contra quem? Contra o governo Lula. Mas quem está interessado em derrubar o governo do presidente Lula da Silva por meio de um golpe? Ninguém, absolutamente ninguém! O mesmo não se diga em relação a derrotá-lo em eleições democráticas pelo exercício da soberania popular.
Se existe algo parecido com golpe hoje em dia é esta proposta de um terceiro mandato para o presidente Lula. Nem as pedras do caminho duvidam, diria Nelson Rodrigues. Nem os militares, na época com toda a conjuntura internacional favorável à derrubada do presidente João Goulart, e com os jornalões e revistões pregando abertamente o golpe, deixaram de manter a alternância no poder. Dos generais, evidentemente. Mas, de qualquer forma, os militares golpistas tiveram mais vergonha e pudor (mesmo que fosse para manter as aparências…) do que os ensaios golpistas atuais daqueles que ainda tentam posar de defensores da democracia ao conceder um terceiro mandato a Lula.
Os mais despudorados e sem-vergonhas dizem: ‘Não é um terceiro mandato, é o direito de concorrer a um novo mandato, como acontece nos sindicatos dos trabalhadores e dos empresários’. Será que o general Emílio Garrrastazu Médici, mesmo que viesse a concorrer a um novo mandato em eleições diretas, não poderia vir a ser reeleito?! Ele também tinha muita popularidade, como Lula hoje. Nada como um ‘milagre econômico’ ou uma situação econômica favorável para popularizar um presidente e levar os seus puxa-sacos a pensar em perpetuá-lo no governo ou no poder.
Quem quer dar o golpe? Os jornalões e revistões ou os defensores de um terceiro mandato para o presidente Lula da Silva?
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Jornalista, São José dos Campos, SP