Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Questão nuclear não é Fla-Flu

O colunista Clovis Rossi, da Folha de S.Paulo, não escreve sobre futebol, escreve sobre política e política internacional, mas reclamou na quinta-feira contra uma ‘flafluzação’ – isto é, a transformação das divergências brasileiro-americanas num grande Fla-Flu.


Tem razão, mas quem está simplificando a questão é a grande imprensa que acompanha os desdobramentos do acordo nuclear com o Irã como se fosse um clássico de futebol: sem meios-tons, sem análises mais aprofundadas e, sobretudo, sem o suporte da pesquisa histórica.


Torcida não garante a vitória num Fla-Flu, nem em Copas do Mundo, ainda mais em uma grave crise internacional. Não é o primeiro confronto Brasília-Washington por causa de energia nuclear.


Lição de casa


O primeiro ocorreu em junho de 1975, portanto há 35 anos, durante o governo de Ernesto Geisel, em pleno regime militar, quando o Brasil firmou um acordo com a Alemanha para a exportação do nosso urânio que lá seria enriquecido e consumido por suas 12 usinas. Em troca receberíamos financiamento, equipamento e a assistência técnica para enriquecer urânio para as usinas nucleares em Angra dos Reis.


Na ocasião, houve outro Fla-Flu e a mídia, embora parcialmente censurada, esteve ainda mais dividida do que hoje: a oposição de esquerda, nacionalista como o ditador Geisel, apoiava o acordo com o governo social-democrata da Alemanha que os liberais recusavam, porque fortaleceria o continuísmo dos militares. Do lado americano estava o presidente Jimmy Carter, intransigente defensor dos direitos humanos.


De lá para cá muita coisa mudou, mas não tudo. Ainda falta aprender a fazer diplomacia longe dos holofotes.