Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Remédio para o ego

O que houve com o Jô? Parece que o nosso célebre intelectual multi uso está com saudades de fazer humor. A cada dia, as entrevistas e entrevistados são meros panos de fundo para o Jô humorista.

Cada vez mais restrito em seu leque de convidados, no sentido intelectual, e cada vez mais amplo na babação de ovo das pseudo-estrelas new generation globais. Onde estão as entrevistas com personagens inusitadas? Estão ainda lá, mas o ego por ser global faz do ‘entrevistador’ Jô uma figura pedante, que chega ao ponto de constranger um entrevistado.

Ultimamente, e felizmente, algum esboço de concorrência no horário surgiu para acabar com a hegemonia do comediante no horário, ingrato, diga-se de passagem. Tenho saudades do Jô Soares 11 e meia, pois além de uma maior liberdade na linha editorial das pautas abordadas, os entrevistados não eram merchan de produtos da casa, como hoje.

David Shore, criador de House, em entrevista para jornalistas da América Latina veiculada na coluna da Patrícia Kogut de 11/11/2008, adiantou algumas novidades da nova temporada que estréia em circuito fechado no continente. É incrível pensar que a Record, apesar do acordo com a Universal, esteja ainda passando a 1ª temporada, após ter passado a segunda e a terceira antes do início da trama. Ainda assim, o médico resmungão tem sido o remédio para os telespectadores madrugueiros, assim fugindo do programa publicitário do Jô. O seriado é um fenômeno tão grande também na TV aberta por aqui que tem constantemente sido líder pela TV Record entrando após a sua linha de shows. Enfrentando o final do Jornal da Globo em metade do seu 1° bloco, e depois o Programa do Jô.

Constranger para entreter

Shore afirma que o dr. House não perderá o seu perfil na quinta temporada; continuará ácido e sarcástico como nas temporadas anteriores. Quem dera que o Jô tivesse essa mesma coerência no seu perfil. O humilde humorista que antes se aventurara como apresentador hoje inverteu seu papel; tenta se pregar como o grande intelectual e entrevistador, mas está cada vez mais humorista.

Em um show de humor, vale tudo pela piada; em uma entrevista, não o deveria ser. Pense naquele gari que, queira ou não, se deslumbraria ao ser entrevistado pelo por muitos ainda considerado o melhor entrevistador do país, virando motivo de chacota após uma constrangedora piada do grande intelectual que ao falar algo torna fato um comentário geralmente preconceituoso e reacionário. E o ato falho de constranger para entreter está em todas as entrevistas hoje, exceto as com os contratados da casa.

A ética deixou de permear o entrevistador Jô, ou o humorista aprisionado está gritando por liberdade?

******

Ator, diretor teatral, cantor, escritor e jornalista, Florianópolis, SC