A culpa é da mídia? Ao longo de cinco meses o Senado Federal ficou paralisado, o processo político engarrafou, o Legislativo desmoralizou-se, o Executivo entrou em pânico e aumentou a distância entre o país real e seus dirigentes. A imprensa é a culpada por este colapso institucional de quase um semestre?
As primeiras suspeitas sobre as relações do senador Renan com o lobista da empreiteira Mendes Jr. foram divulgadas de forma visivelmente açodada pela revista Veja, por meio de uma acusação sem provas veiculada pela ex-namorada do parlamentar. A imprensa errou neste início, mas, três semanas depois, uma exaustiva reportagem da Rede Globo comprovou a falsidade dos documentos que Renan Calheiros apresentou para justificar a sua renda.
A partir desse momento, sentindo-se desmascarado, o presidente do Senado apelou para a violência e a perfídia, numa sucessão de desmandos jamais vista desde o tempo da ditadura.
Quem resistiu à tentativa de implantar a lei do cangaço no Senado da República foram os pares de Renan, a imprensa apenas acompanhou esta valente cruzada dos senadores do bem.
Muitos estilhaços atingiram o Executivo. Não poderia ser diferente: ao adotar uma atitude acrítica na relação com o seu aliado e estimular o seu discurso antimídia, o governo acabou demasiadamente identificado com Renan. Precisará de muito mais do que 45 dias para desinfetar-se.