A Revista MTV acaba de completar três anos de vida. Ancorada na linha ‘música e atitude’, o modo como é administrada essa fórmula por seus responsáveis pode não despertar suspiros nos formadores de opinião. É garantia, porém, de um número invejável: mais de um milhão de leitores. Colabora muito o fato de ser ligada à MTV Brasil e ter a logística da Editora Abril.
O lançamento aconteceu em 2001, ano que marcou o início da crise do mercado editorial brasileiro. Ter chegado até aqui é uma vitória expressiva, visto que outros projetos semelhantes ficaram no meio do caminho. ‘A revista da MTV atinge esse sucesso devido a sua marca e sua ligação com o canal’, entende Zé Mangini, seu editor-executivo. Para ele, não há concorrentes diretos atualmente. ‘Não vemos no mercado uma outra revista com o mesmo foco, com target amplo, unissex, distribuição nacional etc.’
Na entrevista que se segue, feita por e-mail, Mangini abordou outros assuntos. Fala da possibilidade de revistas ligadas a redes de rádio e televisão sustentarem o jornalismo de revistas na área de cultura pop. Refuta as acusações de que as análises de CDs e DVDs são superficiais. E fala sobre o episódio da falsa entrevista publicada com Julian Casablancas, vocalista da banda Strokes.
Como surgiu a idéia da Revista MTV?
Zé Mangini – Quatro anos atrás, a MTV Brasil possuía um projeto denominado MTV 360 graus. Esse projeto baseava-se em ampliar a visibilidade da marca, estando presente em todos os lugares e em todas as plataformas em que o público da MTV estivesse presente. Nada mais lógico do que se lançar uma revista com a marca MTV. Assim, depois de muitos estudos, em março de 2001 foi lançada a Revista MTV.
Por que se optou por se fazer uma estrutura editorial à parte da Abril?
Z.M. – Como se tratava de um projeto editorial e gráfico muito próximo às características do canal, a necessidade de a revista estar próximo a ele era fundamental. Então, foi criada uma estrutura dentro do canal para atender a tal necessidade.
Existe alguma ligação (logística etc.) com a editora?
Z.M. – Logicamente, toda a operação é realizada através do Grupo Abril: impressão, distribuição, captação de assinaturas etc.
No comercial exibido pela MTV em comemoração aos três anos da revista é citada a marca de 1 milhão de leitores. Como se chegou a esse número?
Z.M. – A fonte é Marplan, que levanta dados de nove mercados de janeiro a dezembro/2003 e, projetando-se para a população brasileira, temos que 1.104.176 pessoas leram a revista MTV nos últimos 30 dias (janeiro a setembro/03), em que 55% dos leitores são da classe A e B e a maioria dos leitores com idade entre 15 a 24 anos. Com isso, projeta-se a quantidade de 21 leitores por exemplar vendido. Esses números, apesar de excelentes, não nos causam tanta surpresa, pois, efetivamente, reciclar a revista na sala de aula, entre os amigos e parentes é uma característica do nosso público e conseqüentemente da publicação.
Parte do sucesso e dessa longevidade da Revista MTV no mercado editorial é atribuída à ligação com a MTV Brasil. Temos em São Paulo exemplos de revistas de rádio como 89 FM, Transamérica e Jovem Pan. Essas publicações bancadas por emissoras de rádio e televisão seriam a tábua de salvação para o jornalismo de revistas que cobrem a cultura pop no país?
Z.M. – Com certeza a revista da MTV atinge esse sucesso devido a sua marca e sua ligação com o canal. Não sei se seria a tábua de salvação, mas com certeza é um caminho bem próspero para a cultura pop brasileira.
Quais seriam as reportagens ou artigos de destaque publicados pela revista nesses últimos três anos?
Z.M. – Nesses três anos fizemos muitas matérias que se destacaram, difícil elencar. As entrevistas são pontos altos das edições, a seção ‘Eu queria ser’, as matérias de comportamento como ‘Álcool, drogas e direção’, ‘Racismo’, as coberturas jornalísticas musicais. Enfim, são três anos de boas matérias publicadas, seria injusto destacar algumas e deixar outras de fora.
Qual seria o forte de sua linha editorial? A cobertura da área musical ou as matérias sobre comportamento?
Z.M. – É um misto das duas coisas. Assinamos como ‘música e atitude’ e a revista reflete isso em seu todo. As matérias de comportamento têm cortes musicais e as musicais, fundos de comportamento.
Uma critica que se faz é sobre a superficialidade das resenhas de CDs. O fato de a revista estar ligada a uma emissora de TV cuja área de atuação depende das grandes gravadoras faz com que ela não tenha opinião acerca da qualidade musical daquilo que é lançado no mercado?
Z.M. – Não é essa a interpretação que se deve dar ao encarte de lançamentos de CDs. No próprio encarte alertamos que ‘este é um serviço para orientar sobre os novos trabalhos que chegam às lojas, sem distinção de estilos musicais. Os textos sobre os discos e DVDs são informativos e não opinativos. É você quem vai escolher o que ouvir ou não e julgar, segundo seu gosto pessoal’. Vale lembrar que a revista da MTV é a única publicação com venda direta ao público que traz em seu editorial todos os trabalhos lançados no mês. É um apanhado de tudo que foi lançado, e nesse momento da revista, não pretendemos ser críticos, mas somente prestar serviço ao leitor.
A revista da MTV teria concorrentes no mercado? Em caso positivo, qual a análise das outras publicações que competem com ela?
Z.M. – Não localizamos concorrentes diretos. Nosso público passeia por diversas outras publicações, mas não vemos no mercado uma outra revista com o mesmo foco que a revista da MTV, com target amplo, unissex, distribuição nacional etc.
O jornalista Lúcio Ribeiro publicou em sua coluna na Folha Online a informação de que uma entrevista com Julian Casablancas, vocalista da banda Strokes, publicada em 2001, é falsa. Vocês da redação chegaram a apurar o que realmente houve nesse caso? Qual seria a posição da Revista MTV?
Z.M. – Esse tipo de embate é comum em nosso meio. Todas as nossas fontes, entrevistas e matérias passam por apuração antes de serem publicadas, quer feitas por colaboradores, quer pela própria redação. A gravadora confirma que houve a solicitação da entrevista. O jornalista Lúcio Ribeiro tem todo o nosso respeito.
Quais são os projetos futuros para a Revista MTV?
Z.M. – Estamos bem focados em ampliar as vendas em banca, em captação de assinaturas e ampliação do MTV Social Clube, que é o clube de assinantes da revista, com diversos benefícios.
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Colaborador dos sítios Laboratório Pop, Ruídos, Esquizofrenia, 3am e Papo de Bola; blog pessoal: